*
Lasar Segall
O Amor - Óleo sobre tela.
A mulher aplaca das faces o sorriso, pensa um pouco e pergunta:
- Desencantado comigo?
- Um
pouco.
- Me acha
ultrapassada, bitolada, não é?
- Imagino
que precisa rever a direção de sua bússola, alterar o foco do olhar e tomar
consciência do avanço social no planeta. Sobretudo, estabelecer uma conexão
positiva com suas transformações. Como diria o velho Darwin, só sobrevive quem se adapta melhor aos
desafios da evolução.
- Ã-Hã.
- Suzana,
está passando da hora de mudar sua maneira de ver as coisas, atualizar. A gente
não pode ficar presa ao passado, porque o futuro está aí para nos reservar
grandes surpresas, pode crer.
- Quer
dizer que devo mudar meus valores em relação a minha cabeça, é isso?
- Até
porque a sexualidade da mulher, cada vez mais, se torna assunto obrigatório
diante dos ventos de liberdade que sopram sobre todos os lados. Ser mulher hoje
é muito diferente. No meio desse processo de mudanças é um desafio que temos
que encarar querendo ou não. Liberte-se do sistema, veja o mundo de hoje sem
barreiras, desacelere.
- Olha
aqui: Eça de Queiroz escrevia no primeiro número de As Farpas, em 1871, o
seguinte texto: ... O país perdeu a
inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as
consciências em debandada. Faço das palavras do escritor português minhas
também. É isso.
- Outro
país, outra época, querida.
– Olha
aqui, Suzana: Pela primeira vez na história, o conforto do sexo é algo
igualmente acessível a homens e mulheres de nosso país. Finalmente, nossa gente
vem se libertando da moral católica, das convenções sociais e de uma repressão
histórica.
- Acho
isso meio perigoso.
- Suzana,
o que antes era encarado como um prêmio de casamento, o sexo livre passou a ser
um direito da juventude que se inicia cada vez mais cedo na vida sexual,
acumula mais parceiros e se casa mais tarde.
– O que a
gente mais vê é aquele jovem que fica com alguém e não estabelece nenhum tipo
de compromisso ou vínculo. Ninguém quer nada sério. O sexo virou um prazer que
a juventude pratica como um direito e não como um laurel de uma história
afetiva construída. Só sei que ninguém volta de uma festa para casa sem um
“beijo na boca” ou mesmo uma transinha desatinada.
Risos. Mathieu:
- Sim, e
daí? De uns tempos para cá levantar a bandeira do feminismo faz parte do
cotidiano, querida.
- Ã-Hã.
- Ora, bolas,
até parece que vive com um pé na idade média. Ou, ainda mais longe: nos templos
bíblicos. Destrave, Suzana, faz o quê aí no passado?
- Ah!
- Seja
como for, descobrir o século XX é necessário.
- Será?
- Uma
mulher fina, inteligente como você precisa se engajar. Fazer parte. O passado
está na sua cabeça e o futuro nas suas mãos, viu?
- Ah,
Math!
- Ah o
quê?
- Quer
saber: eu ainda alimento desconfianças quanto ao futuro da mulher.
- Ora,
Suzana, tudo está muito claro.
- Não
sei.
-
Portanto, trocar de posição não é o fim do mundo. A mente é como um paraquedas,
só funciona aberto. Esse é o grande desafio do século.
- Defendo
essa onda de mudanças, sim. Mas não faço apologia à prática de sexo com tamanha
irresponsabilidade, cada vez, mais simplificado e demoníaco entre a juventude.
Passa dos limites. Eles acham a coisa mais normal do mundo passar a mão e
beijar em qualquer lugar, entretenimento apenas. Bolas, a sexualidade não é
mais o que era!
- Nem
poderia ser.
- O
problema maior, meu amigo, é a obsessão pela felicidade. Ser feliz virou
obrigação a qualquer custo numa sociedade de excessos compulsivos. Ora, Math,
não pode ser assim.
Depois de
uma pausa, Suzana completa:
- Hoje em
dia, nossas fantasias não são moldadas pelo amor romântico, mas pela cultura do
excesso. Temos tudo, queremos mais, nunca estamos satisfeitos. Dá para
perceber?
- Não é
bem assim.
- Lamento
que o modernismo se encante, cada vez mais, com a fantasia de reduzir o passado
aos seus próprios valores e medidas. Isso não é bom. Minha geração exacerbava
menos, tinha limites e noção de respeito aos princípios éticos. Sexo era coisa
reservada.
-
Avanços, querida. Inclusive da ciência...
- A
verdade, querido, é que a juventude de hoje quer modificar as coisas muito
rápido. Tudo ao mesmo tempo. Nada mais.
- Não
importa. O que importa é que você é uma mulher politizada, estudiosa e
sensível. Tem tudo para ver que o duelo das mulheres contra o preconceito é o
mais valioso símbolo de uma transformação social que o mundo já viu. Põe isso
na cabecinha, criatura. Ainda dá tempo.
Pausa.
Suzana:
- Não
sei... Não sei... Ah, Math, como estou passando pela fase mais crítica da minha
vida, tudo me inquieta.
- Eu sei.
- Insinua
que eu vivo a ilusão de que a vida é um eterno conto de fadas? Antiquada demais,
quadradona?
O rapaz
em tom filosófico:
- Em
tempos de mudanças, temos que se ligar em tudo ao nosso redor. Caso contrário,
meu anjo, o trem passa e a gente perde a viagem.
- Hummm!
- Quer ouvir
um conselho de Mark Twain?
- Sim.
- Daqui a alguns anos você estará mais
arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Então solte suas
amarras. Explore. Sonhe. Descubra.
- Arre!
-
Sintonize um pouco mais suas antenas e abrace, com vigor, o mundo novo que se
desponta cheio de avanços sociais. Você muda. O mundo muda, tudo muda. Certo?
- Acha
muito fácil, não é, rapazinho?
Mathieu
responde, solfejando um verso de uma canção de Milton Nascimento:
- Mas é preciso ter força. É preciso ter raça.
É preciso ter gana sempre. Quem traz no corpo a marca Maria, Maria.
Suzana
contrai o rosto.
- Bem, me
desculpe.
-
Desculpar de quê?
- Desse
jeito ranzinza, meio intolerante de ser.
- Ora,
menina.
- Prometo
rever meus conceitos, viu?
- Melhor
assim. Também faço meu um pensamento do escritor argentino Jorge Luiz Borges, para quem só os idiotas não mudam de ideia.
Pausa.
Depois de tomar um pouco de cerveja, ela muda o tom da conversa:
- Quero
trabalhar também na parte da tarde. Não sabe que coisa mais chata é ficar em
casa sozinha, pensando. Enche o saco.
-
Imagino.
-
Certamente vai me ajudar a ampliar a visão do mundo lá fora.
- Sem
dúvida. Pensa fazer o quê?
- Tudo,
menos enfrentar outra sala de aula num segundo turno, apesar de amar o que eu
faço.
- Por que
não? Professora é uma das mais nobres profissões, se não a mais. Não há ofício
mais comprometido em formar cidadão, preocupado com o mundo do que o educar.
- Mas...
- Eu, por
exemplo, sou muito grato aos meus mestres. Principalmente às educadoras do
curso primário. Graça ao empenho delas, que não mediam esforços para me ensinar
a ler que aprendi a lidar com a escrita, estou onde estou.
- Sim,
sim. Mas prefiro diversificar.
- Certo.
- Lá fora
a gente depara com tanta coisa para fazer, não é mesmo?
- Claro.
- Pois
então vou atrás de mais um emprego, mesmo sabendo que José Renato nunca gostou
que eu trabalhasse fora. Nunca escondeu isso. Até como professora, ele implica,
torce o nariz. Acredita?
-
Estranho – observa Mathieu, abanando a cabeça.
Suzana,
depois de soltar a fumaça do mentolado que fumava, ressalta:
- Se
ainda não percebeu, lamento dizer que seu amiguinho é meio fingido. Imagina uma
coisa e fala outra.
- Nunca
notei.
- Para
ele, eu deveria parar de trabalhar fora para ser apenas mãe. Apenas dona de
casa, totalmente, limitada à esfera doméstica. Desde o início do casamento me
pressiona a largar a sala de aula. Demais, não?
- Como um
gato tomando conta dos peixes – brinca o rapaz, sorrindo.
- Isso
mesmo. O cara me tolhe de tudo, até de visitar a casa de meus pais no interior com
o garoto ele implica.
- Sério?
- Não sei
por quê? Nunca fiz nada de errado.
- Penso o
contrário. Em minha opinião, a mulher deve trabalhar fora, mesmo que não
precise. Desse jeito desfruta sua vida com mais independência. Se viver só para
o lar, nunca terá vida própria.
Ela sacode
os ombros:
- Mas é
isso que seu amigo quer de mim. Se depender dele, eu deveria passar o resto da
vida com medo de perdê-lo.
- Triste!
-
Verdade.
- Por
mais incrível que pareça, sei que ainda existem homens que aprisionam esposas
em casa para sua eterna subserviência. Insegurança. Medo do mundo, o mais
certo.
Pausa. A
mulher ergue a sobrancelha:
- Nunca
dei ouvidos. Sabe por quê?
- Diz.
- Porque
não abro mão de ganhar meu dinheirinho e fazer, na medida do possível, o que me
deixa feliz. Sempre quis virar a página e descobrir o mundo, ampliar meus
horizontes.
- Isso
mesmo.
- Assim
sendo, não adianta ele me encher a cabeça. Não cola.
O rapaz
animado toma um gole de cerveja, e festeja:
- Isso,
menina, é assim que se fala. Bola para frente!
- Pode
não parecer, Math, mas torço pela liberação da mulher, sim.
- Não é o
que me passa.
- Meu
feminismo não é o do ódio, nem o do ressentimento. Muito menos sou de ficar
valorizando comportamentos transgressivos. Não bate comigo. Milito numa
resistência menos barulhenta. Detesto movimentos alvoroçados.
- É?
- Sempre
que posso, coloco o tema para discutir com meus alunos. A turma participa com a
mais silenciosa atenção, precisa ver. Coisa que um professor,
dificilmente, observa no rosto de seus alunos sala de aula.
-
Parabéns.
- Eu
penso que o professor não deve ser um simples informador, mas um auxiliar na
formação de consciências para transformar seus alunos. Certo?
- Certo.
- Mas,
para que isso aconteça, temos que fazer de tudo para transformar as aulas trabalhando
atividades de autoconhecimento, principalmente, por meio da literatura.
- Claro, claro.
Suzana
reflete ainda um instante. Só depois diz, com afabilidade:
-
Aprecio, sim, a luta de Simone de Beauvoir como porta voz dos anseios femininos
por mais respeito e liberdade no mundo de hoje. Como também de Françoise
Giroud, de Simone Adolphine Weil e de tantas outras pensadoras engajadas, que
batalham pela autonomia da mulher.
- Folgo
em saber – admite o rapaz, rindo.
- Clarice
Lispector e Virginia Wolf também têm um papel decisivo na emancipação feminina.
-
Bravo!
- Na
verdade, o que me fascina nessas pensadoras é o sentimento libertário com
racionalidade e disciplina, estimulando ação não violenta pelos nossos
direitos.
- Já leu
O Segundo Sexo, de Simone?
- Várias
vezes. Imaginariamente, o livro continua na cabeceira de minha cama.
- Boa
pedida. Com suas 936 páginas, a obra é como bíblia do movimento feminista que
luta pela igualdade de sexos. Foi escrito por uma mulher que nunca se limitou a
ser apenas esposa de Jean-Paul Sartre. Depois de longos estudos e análises,
Simone denunciou a condição feminina com tanta firmeza que o Vaticano, de forma
irracional, proibiu a publicação para os católicos.
- Erro do
Pontífice – aceita a mulher.
- Mas, o
tiro saiu pela culatra e acertou os pés do papa, porque ele não foi nem vai tão
cedo ser rejeitado pelas as mulheres dos quatro cantos do mundo, independente
do credo que praticam.
- Sim.
- Desde
1949, quando lançado na França, continua sendo um sucesso de vendas. Impregnado
de conteúdo focado na sexualidade, aclamado pela crítica americana e europeia,
o livro foi traduzido para todas as línguas ocidentais. Leitura obrigatória
para mulheres e homens.
- Ã-Hã.
- Simone
é considerada um elétron livre no cenário intelectual francês contemporâneo.
-
Merecidamente.
- Como
esposa de Jean-Paul Sartre, os dois acompanham seu ideário moldar o rosto da
modernidade do Ocidente, principalmente, dando exemplos da liberdade sexual e
da emancipação feminina.
- É.
Pausa.
Mathieu com um sorriso sarcástico:
- Coisa
parecida aconteceu com a escritora irlandesa Edna O’Brien.
- Autora
de Garota do Campo?
- Sim.
Embora defendesse uma posição religiosa firme, pelo teor sexual do texto, essa
obra foi massacrada pela censura da Igreja. Como também pela perseguição
estúpida do aparelho de segurança irlandês que proibiu sua venda no país, mesmo
com a prosa essencialmente poética da romancista. E pior: exemplares de Garota
do Campo foram queimados em praça pública. Quer coisa mais burlesca?
Suzana
deixa escapar um ‘ah’ de decepção.
- Aberração!
- Tão
absurdo, que numa calçada de Bebelplatz, onde o episódio ocorreu, está gravada
a seguinte frase para ninguém esquecer do fato: ... Onde se queima livros, cedo ou tarde, queima-se homens.
- Coisa
boa!
- Freud
também questionou a humanidade ao saber que suas obras estavam alimentando
lareiras em alguns lugares da Europa.
- Qual a
reação dele?
-
Questionando, simplesmente: Que progresso
estamos fazendo? Na Idade Média ter-me-iam queimado. Agora estão contentes em
queimar meus livros.
- Bravo!
- aplaude Suzana.
Depois
uma pequena pausa, ela:
- Math,
sabia que o Brasil do século XIX teve uma escritora que também levantou a
bandeira da emancipação feminina?
- Quem? –
pergunta interessado o rapaz.
- A ilustre
desconhecida Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia
Gonçalves Pinto.
- Nísia
Floresta?!
- Nasceu
em 12 de outubro de 1810 em Papari, no Estado do Rio Grande do Norte. Morreu em
24 de abril de 1885 em Rouen, na França.
- Olha!
- Autora do livro Direitos das Mulheres e a Injustiça dos Homens, publicado em 1832.
- Autora do livro Direitos das Mulheres e a Injustiça dos Homens, publicado em 1832.
- Nunca
ouvi falar dela e de sua vida. Nunca li nada a seu respeito.
- Obra
avançada para a época, ainda que sem grande apuro literário, tentou elevar a
mulher a um lugar de destaque no trabalho, afrontando séculos de opressão e
machismo. O ideal firme e inovador da autora teve tanta repercussão que abalou
até as estruturas do poder clerical da época.
- Sério?
- O
objetivo era acender a chama da discussão do papel da mulher na sociedade
brasileira. Nísia repudiava a condição inferiorizada e a desigualdade de
renda das mulheres, inseridas no mercado informal de trabalho.
-
Interessante!
-
Questionava por que seres humanos, sujeitos à gravidez e a indisposições passageiras,
não poderiam exercer direitos que nunca se imaginou privar aos homens que,
constantemente, sofriam de gota e se resfriam durante o inverno.
- Bom
saber. Nem sequer imaginava que, naquela ocasião no Brasil, quando a busca pela
emancipação da mulher começava a coçar a cabeça das mocinhas pensantes da
Europa, pudesse ter existido uma brasileira exigindo mais respeito para o sexo
feminino. Legal. Muito legal.
- Imagino
que foi a primeira feminista brasileira a publicar artigos nos jornais,
estimulando a luta pela emancipação da mulher em solo tupiniquim.
- Viva! –
expressa Mathieu, exultante.
- Na
verdade, o livro foi uma tradução adaptada para a nossa realidade das ideias
avançadas que circulavam na Europa, desde a Revolução Francesa – esclarece
Suzana.
- Tudo a
ver, sim – confirma o rapaz. - Nísia deve ter se inspirado no ‘Clube Patriótico
de Mulheres’, fundado em Paris logo após a Revolução Francesa, sob o lema: por que a mulher não teria o direito de
subir à tribuna já que ela tem o direito de subir ao cadafalso?
-
Provavelmente.
- Quem
liderou esse movimento foi a escritora Olympes de Gouges que, em 1791,
apresentou a ‘Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã’, em rebeldia à
‘Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão’, de 26 de agosto de 1789, que
não reconheceu a igualdade das mulheres. Muito menos lhes concedeu pleno
direito de cidadania.
Suzana
levanta os olhos, surpresa:
- Difícil
de acreditar.
- Olympes
foi uma líder famosa do século 20, tal a modernidade de seu ideário, a ousadia
de seu modo de vida e a lucidez crítica do seu pensamento.
-
Maravilha.
- Ela pôs
o dedo na ferida ao perceber que os Constituintes Revolucionários franceses
violaram o princípio da igualdade, ao privar o gênero feminino de direitos
elementares nas cláusulas pétreas da ‘Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão’. Não foi legal.
- Claro
que não – aquiesce Suzana.
- Pegou
mal. Ainda mais vindo de um país de vanguarda, como sempre foi a França.
- Nada mais descabido.
- É isso,
querida. Então podemos dizer que Nísia foi nossa primeira tropa de choque de
uma pessoa só a mostrar, publicamente, que a mulher precisava sair do imenso e
pavoroso guarda-chuva de preconceitos da pacata sociedade brasileira?
Suzana
esboça um sorriso.
- Ah,
claro.
E
conclui:
- Está
vendo, não sou tão desentenada assim. Na verdade, eu jogo naquele time de
mulheres que promove uma revolução menos barulhenta, mesmo estando à frente de
seu tempo.
-
Parabéns.
- Não
nego que muitos costumes sociais precisam evoluir, sim. Hábitos também. Mudar a
maneira de pensar, a maneira de ser. Nisso eu estou de acordo, mas com algumas
reservas.
-
Maravilha – aplaude o rapaz. – A ONU, para dar mais visibilidade à importância
do gênero feminino na sociedade, e mostrar que elas precisam de mais espaço,
pretende criar um dia em homenagem à mulher.
Suzana
interfere com humor:
- Rainha
do lar?
- Lógico
que não. Um dia para refletir e lembrar sua importância social no planeta.
- Bom
mesmo.
- Então
continue, a seu jeito, perdendo o medo do espelho e de ter seus desejos, toda
mulher tem o direito de ser feliz, viu?
- Tudo
bem. Tudo Bem. Por isso mesmo, vou batalhar pelo meu novo emprego e tomar posse
definitiva de mim.
- Claro.
Ainda não me disse com o que quer trabalhar.
- Pensei
um emprego de secretária bilíngue, falo inglês fluentemente.
- Boa
pedida.
- Mesmo
sem experiência acha que dou conta?
- Vale
correr o risco. Se não é melhor rasgar seu diploma universitário e abrir uma
quitanda.
Risos. Suzana brinca:
Risos. Suzana brinca:
- Seria
uma boa quitandeira?
- Demais!
-
Hummmmm!
Mathieu,
contorcendo-se na poltrona.
-
Charmosa desse jeito ia logo quebrar seus concorrentes.
- Tolo.
- Falo
sério.
-
Muito bem, como arrumar um emprego assim?
-
Correndo atrás.
- Sem
querer abusar já abusando, você me ajuda?
- Dou a maior
força. Não sei se o Zé...
- Ai,
socorro!
- Pode
não gostar.
-
Chiiiiii!!!!
Mathieu
com o cenho apertado:
- Há
questões éticas que dão contorno de drama a assuntos dessa envergadura. Podemos
ser vítimas de invejosos. Pode não prestar, dar treta.
- It’s a puzzlement.
- Encrenca
na certa que logo ganha força. Há sempre um bisbilhoteiro invisível por perto,
para dizer por aí que alguém está querendo botar arreio na égua de outro. Arre!
- Não,
não, não, não. Detesto fofocas!
- De uma
pessoa como você sempre há comentários, ‘né? Todo cuidado é pouco. A língua
ferina da futrica destrói mais do que fogo.
- Ai, só
de pensar no estrago que isso pode fazer, me dá um frio na espinha. Com a
cabeça que seu amigo tem, vai até achar que temos um caso. Oh, não, obrigada.
Melhor evitar fuxicos, muito menos caçar infuca entre a gente - alerta a
mulher.
- Sim.
- Tudo
bem, tudo bem, retire o que lhe pedi. Vou batalhar sozinha. Se não der, azar o
meu.
- Claro.
Quem tem rumo até o vento contra é a favor.
Risos.
Suzana:
- Tomara.
- As
exigências são muitas. Vai desde o figurino até a voz macia para falar com os
clientes. Ser comunicativa faz a diferença, querida.
- Ai,
será que me enquadro?
- Tudo
vai dar certo. Um poder que você tem é a aparência física. Além de inteligente,
bonita, agradável e bem-vestida, é dona de um rostinho bem formatado, o que
pode ser bom atalho para ser bem sucedida em qualquer atividade.
Características físicas pesam, e muito, no ambiente de trabalho.
- Puxa!
- Há de
convir que um rostinho assim não é tudo, mas que abre portas, abre. Mostra
poder, força. No teatro da existência, como disse Platão, a beleza pesa na
balança.
- Tiro e
queda?
-
Querida, isso é capital indispensável no mercado de trabalho de hoje no Brasil,
viu?
- Viu.
-
Aristóteles também insinuava que a beleza
é mais do que qualquer carta de apresentação. Centenas de anos depois,
Shopenhauer corroborou dizendo que a
beleza é uma carta aberta de recomendação.
- Vish!
- Não é
tudo, mas atratividade é fundamental para a ascensão profissional das pessoas
nas sociedades modernas. Quanto às mulheres..., quanto às mulheres, de maneira
geral, os patrões reconhecem e valorizam o capital erótico delas no ambiente de
trabalho também. Pode crer.
- É.
- O
importante é saber juntar beleza com atitude para conquistar o que quiser. Eva
Braun foi um bom exemplo disso.
Risos.
Suzana satisfeita:
-
Obrigada pela força. Quanto ao Zé, que se dane!
* FBN© - 2012 – O Segredo de seus Olhos..., NUMA NOITE EM 68 - Categoria: Romance de Geração - Autor: Welington Almeida Pinto. Iustr.: O amor depois do Amor - Lazar Segal. Link: http://numanoiteem68.blogspot.com.br/2011/01/24xxiii-o-segredo-de-seus-olhos.html?zx=a5856ddc7946e437
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