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Alton S. Tobey
Alton S. Tobey
O Mundo de Frida, óleo sobre tela.
Mathieu
leva o cigarro à boca sem afastar os olhos da amiga.
- Quem
sabe seu esposo volta desse Seminário com outra cabeça e disposto a rediscutir
a relação de vocês.
- Não
adianta. Nem com intercessão divina eu quero viver com José Renato. É sério –
afirma Suzana, decepcionada.
- Mesmo?
- E não
me aponte o dedo, viu?
- Fique
tranquila.
Suzana
aperta as mãos, nervosa.
- Olha,
eu tentei. Mas, nem sempre podemos escolher nossos finais, eles acontecem.
Fazer o quê, não é?
Risos.
Mathieu:
- Você
está com uma cara! Tem a ver com a viagem dele?
- ...
- Tem?
- Ahhh
... Sei lá, mil coisas.
- Mil
coisas?
- Melhor
deixar isso para lá.
- Sabe
para onde seu marido viajou?
-
Fortaleza.
- Vai
participar de um Simpósio.
- Tomara
que lá esteja chovendo. E muito - maldiz Suzana com gestos inquietos.
-
Atormentada com isso?
-
Ah!
- Joga
praga não.
- Ele não
liga para mim. Então, não ligo para ele.
-
Dorzinha de cotovelo?
- É ruim,
hein?
- Coração
mexido?
- Está
louco, cara! Vira essa boca para lá.
- No
fundo... No fundo da alma, quem sabe ainda existe mais esse probleminha para
resolver. Conte isso direito.
A mulher
levanta as sobrancelhas.
- Pensa
que estou fazendo cena de ciúmes?
- Não,
longe disso. Tenho um palpite que a história de vocês não acabou assim como
está dizendo. Você ainda se derrete por ele.
- Enorme...,
grande, mega bobeira!
- Ciúme,
Suzana, é afrodisíaco. Atiça as inseguranças.
- Vira
essa boca para lá.
- Calma.
Calma.
- Ah!
Mathieu,
com ares de preocupação:
- Ainda torço
para que seja um desentendimento passageiro. Afinal, ninguém é perfeito.
- Para de
fazer onda! - pede a mulher impaciente.
- Aposto que o seu marido chega
para as festas de fim de ano cheio de aspirações para consertar tudo isso, e
reatar o namoro entre os dois pombinhos.
- Sem
palavras.
- Pode até
telefonar para seu esposo e escolher um bom presente de viagem.
- Já
escolhi: distância dele.
- Hein?
- Ora,
Math, que história é essa?
-
Perturba não, a poeira vai baixar.
- Háháhá!
Dia do São Nunca! – expressa Suzana num
tom maldoso.
- Um
esforcinho, só.
-
Esforcinho?!
- Mínimo.
Com
tragadas miúdas no cigarro, ela se mantinha indiferente.
-
Querência que não encaro. Nem morta, viu?
- Suzana,
certas coisas na vida a gente deve apagar, esquecer. Pluft! Deixar para lá.
-
Querido, tem certas coisas na vida que são inesquecíveis. Plac! Colam para
sempre em nossa memória.
Risos.
Mathieu:
- Numa
boa, menina.
- Ou acha
que é só virar a chave e tudo volta como era antes?
- Bem...
- A
situação sempre foi muito cômoda para ele - diz a mulher em tom de reclamação.
- Para mim não foi nada cômodo.
- Suzana!
- Por que
devo abrir o meu coração, quando ele também não abre o seu?
- Suzana,
olha aqui?
- Não é
assim... Me erra, vai!
- Tenta
ver lado bom das coisas e deixe de tanta resistência. Quando se vê, já são seis horas! /Quando se vê, já é sexta-feira/Quando
se vê, já é Natal, Quando se vê, já terminou o ano..., alerta Quintana.
- Não me
venha o senhor com esse lero-lero – pede a mulher, olhando com certa repulsa
para o amigo.
- Não
estou brincando.
Suzana,
depois uma longa tragada no cigarro, fuzila Mathieu com um olhar curioso. E
pergunta:
- Importa
para você?
- Claro
que sim. Quero a felicidade do casal.
A mulher
encolhe os ombros. Mathieu persiste:
- Vê se
consegue segurar essa barra nesse fim de ano.
- Nanã. Para
mim, quando algo termina, acaba realmente. Zera.
- Putz!
- A
melhor maneira de lidar com as pessoas que traem nossa confiança é passar a
ignorar a presença delas no mundo. Não acha?
- Talvez.
Depois de
outra delongada sorvida no cigarro, Suzana com a voz um pouco irritada:
- Página
virada, arrancada até. Quero esse cara bem longe de mim. Bem longe. Amor para
mim, Math, é cuidar. Nunca fazer o outro sofrer. Portanto, nada mais me
interessa nesse casamento. Deixei de ser Polyana com seu mundo cor-de-rosa.
Ponto final.
Mathieu
não se dá por vencido:
- A
passagem de ano desempenha grande efeito psicológico sobre as pessoas e pode
jogar alguma luz sobre o quebra cabeça. Réveillon, em francês, significa
acordar, despertar. Propõe renovação e recarga de energias para alimentar uma
convivência pacífica entre as pessoas.
- Vou
pensar no caso. No fundo, no fundo sou generosa.
- Jingle Bells?! - solfeja o rapaz.
- Too little, too late!
- Fim de
ano é época de fazer um balanço da vida. Refletir sobre erros e acertos,
sacudir as desilusões e renovar as esperanças. Afinal, não tem oportunidade
melhor para mudar o estado de espírito, se livrar das magoas e ressentimentos.
Resignar-se. Certo ou errado?
- Clichê.
Puro clichê.
- Sim,
querida, pode até ser. Todo ano que se inicia não deixa de ser um convite a uma
reflexão. Reflexão de si mesmo, claro. Daí para frente, se queremos alguma
novidade de fato, ela virá da nossa maneira de encarar a vida. Concorda?
- De
qualquer forma, na virada desse calendário, vou me vestir toda de vermelho –
revela Suzana, voltando a ensaiar um sorriso.
- Toda?
- Da
cabeça aos pés, inclusive a lingerie. Háháhá..., e com uma rosa rubra espetada
nos cabelos.
- O que
tem o vermelho com isso?
- É tom
de roupa longe de ser sem graça. Liga-se nisso, cara! Chama paixão.
- Sério?
- O
vermelho na pele é como Martini com cerejas, me deixa alucinada, uma tentação –
conclui a mulher numa expressão maliciosa.
- Oba!
- O pé
esquerdo em 1968 que, para mim já é passado. E o direito em 1969. Quero abrir o
ano novo com mais essa no cardápio do meu réveillon
para atrair energias positivas. Não conheço canal melhor para a gente soltar a
imaginação, certo?
Risos.
Mathieu:
- Sabia
que, desde a antiguidade, a rosa era uma flor consagrada a Vênus?
- A
vermelha?
- Essa
cor não existia.
- Não?
- Ovídio
conta em Metamorfoses que, na origem, suas pétalas eram brancas, até que um dia
a deusa, ao perseguir o seu amado Adônis, feriu-se com os seus espinhos e a
tingiu de vermelho com o próprio sangue.
- Ave
Maria!
Mathieu
toma-lhe as mãos e apoia:
- Ano
novo, vida nova e diário novo. Vamos abrir os braços e acolher bem 1969, que
promete uma montanha de emoções para todos nós.
- Oh,
céus! Abrir é pouco, escancarar.
- Adeus,
1968. Feliz 69.
A mulher
silencia, esconde o rosto entre as mãos. Não queria se mostrar nervosa, mas
estava intranquila. De repente levanta os olhos em direção ao amigo.
- Math,
posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
E com um
biquinho de mal humorada, ela:
- Já que
insiste em falar de José Renato, gostaria que me contasse se ele tem outra?
- Outra?
- Outra
mulher na sua vida.
- Que
isso?! – admira o rapaz.
- Me
fala, ele tem outra?
-
Caramba!
A mulher
prega seus olhos claros nos olhos do amigo, como se implorasse por uma
resposta.
- Ei,
qual é, não vai falar?
- Claro que não.
- Não
mesmo?
- Claro
que não.
- Bem,
Math, acho que ele anda aprontando por ai.
- Piração
da sua parte.
- Pelo
amooor de Deus, para com essa história e não encubra a verdade de mim. Vamos, fala
o que sabe e não me tapeia.
- Não sei
de nada. Nada mesmo.
- Aiaiai
... Ai tem coisa!
- Deixa
de ser boba, menina.
Com um
olhar queixoso, regado por uma fagulha de suspeita, Suzana:
- Há
muito lido com o vazio da dúvida, uma pulga me coça atrás da orelha...
- Cismada
com o quê?
- Sempre
tive, desde o início do casamento, uma desconfiança de que ele quer me deixar,
me rifar.
- Há! Ha!
Há! O Zé te deixar?!
- Só pode
ser outra mulher no ‘pedaço’!
-
Imaginando bobagens.
Suzana
emudece de novo. Alguma coisa no sorriso que rondava o rosto do rapaz deixou-a
mais nervosa:
- Não
minta, nem queira me poupar. Não sou sonsa, uma hora vou descobrir mesmo, você
vai ver.
- Putz!
- Pois
então para de proteger seu amigo. Merda!
- Ô,
Suzana, que isso?
- Ai, que
agonia! Diga logo e não fica ensebando - impacienta-se Suzana, alterando
ligeiramente o tom da sua voz.
-
Realmente não sei de nada. E deixe de me olhar com essa cara de desconfiança.
- Claro
que sabe, vamos... – insiste a mulher em tom suplicante.
- Tolice
de sua cabeça.
- Olha
aqui, seu Hitler, veja se tenho nariz de palhaço.
O rapaz
ri com ironia. Ela continua:
- Deve
achar que sou uma tonta. Sem sacanagem, viu?
- Por que
essa agora?
- De
certo tempo para cá, do jeito com que ele me procura, deixa a sensação de que
pensa em outra pessoa.
- Não
seja dramática.
Ela fica
um instante em silêncio, pensando.
- Ora,
Math, qual mulher não tem ciúme sexual do homem que tem em casa?
- Deixa
de cismas..., de devaneios. O ciúme é um
monstro que zomba da carne que consome, já advertia William Shakespeare.
- Durmo
bem com os insultos de quem pensa diferente de mim, mas perco o sono
literalmente quando alguém me faz de trouxa. Fique sabendo, viu?
- Está
imaginando bobagens. Nada a ver.
- O que
magoa, Math, quando algo assim acontece, é a sensação de ter sido passada para
trás, trocada por outra às escondidas. É insuportável!
- Tire
isso da sua mente, menina.
Suzana
olha fixamente o rapaz que, depois de um sorvo prolongado de cerveja, diz:
- Ele
nunca me disse nada, nunca vi nada, juro.
- Para de
jurar também. Jurar tanto assim é coisa criança.
- De
fato.
Ela
contrai os lábios, cruza os braços e fita o amigo com um risinho divertido e
amargo.
-
Enrustido como ele é pode até ser outra coisa - insufla a mulher em tom
fatalista.
-
Exemplo?
- Se não
é com outra mulher...
O rapaz
não acha graça. Franze a testa, ajuizando um pouco antes de rebater.
-
Insinuando o quê, mocinha?
- Bolas.
Aqui em casa, como ele me trata tão mal, pode ser sinal de aversão ao sexo
feminino. Então?
- Então o
quê?
Suzana
aperta uma mão cerrada contra a palma da outra, estalando as juntas dos dedos.
- Sei lá.
Existe o tipo meio misógino. Aquele que habita mal o corpo masculino, porque
tem o lado feminino aflorado.
-
Caramba! Não acha que está levando tudo um pouco longe demais?
- Posso
ter defeitos, querido. Mas a burrice não está entre eles, já disse. Essa
agressividade por parte do Zé pode ser um modo de desviar a atenção das
verdadeiras razões que o levam a me agredir tanto. Ao que tudo indica, esconde
lances calcados lá no seu passado, quando cometeu coisas que rejeita e não
consegue enterrar de vez.
- Sem
provocações, Suzana
- De
qualquer forma, Math, a ideia que me vem à cabeça é que, se for o caso, melhor
ele procurar ajuda de um profissional, analisar com mais cuidado o perfil
sexual que tem dentro de si e tratar a questão com mais prudência. Isso ajuda o
cara a lidar com todas as questões que o sexo envolve.
- Viaja
não, Suzana – repulsa o rapaz com a observação que lhe pareceu exagerada, e
fora de propósito.
Suzana ri
um riso esganado, gutural.
- Algum receio?
- Não,
nada disso.
Sem
esperar a réplica, o rapaz emenda:
- Se for
o que está pensando, pederasta, boiola o Zé não é – pontifica.
- Pode
ser que sim. Pode ser que não.
- Aonde
você quer chegar?
- Alguns
analistas defendem que atrás de um homem possessivo, machistas e ciumento
podemos encontrar grandes doses de insegurança de sua própria sexualidade. Por
isso mesmo, querem dominar e controlar não só o presente, mas também o passado
de sua companheira. Dessa forma acaba infernizando as relações matrimoniais.
- Está
indo longe demais, Suzana.
- Ah,
Math, você bem sabe que temos sentimentos que a própria razão desconhece. A
sexualidade humana não é assim tão preta no branco. Pode apresentar inclinação
em outra direção, impingindo o indivíduo a desejos inexoráveis. Fica sempre uma
incógnita.
- Sem
essa! Mais juízo, criatura – assevera
Mathieu ao perceber o que se passava na mente de sua amiga.
- Também
não precisa ser grosseiro – rebate ela amuada.
- Bolas,
não acha que está indo longe demais?
Suzana
olha para o rosto do rapaz e percebe seu espanto, claramente, exposto.
- Ih,
Math, que cara mais aborrecida é essa?
Ele não
se manifesta. Ela:
- Põe um
sorriso nessa cara, põe?
- Posso
ser franco?
- Pode.
- Não
gostei dessa maneira, sem pé nem cabeça, que você coloca as coisas.
- Ah!
- Estou
mesmo assustado com seu modo de falar.
Suzana com um ar maroto, baixa a cabeça.
- Peço
desculpas. Foi um desabafo.
-
Cuidado, hein! Uma língua afiada demais pode cortar a própria garganta. Todos
nós sabemos muito bem disso.
-
Conjecturas, Math! Conjecturas! Deus queira que não seja eu um espelho que
revela esse tormento para José Renato. Sobretudo, que eu esteja me preocupando
à toa. Mas, que há algo podre no reino da Dinamarca há, como disse o príncipe
Hamlet meio perdido na vida.
- Deixa
de inventar moda, menina - pede o rapaz, bebendo mais um pouco de cerveja.
Depois de
um tempo calada, Suzana acende outro mentolado, puxa uma baforada de fumo e,
contemplando o amigo, pergunta-lhe se tinha ficado tão chateado assim com suas pressuposições.
Ele responde:
- Deve
ter um pouco mais de cuidado com o que se fala.
- Também
não precisa ficar com essa cara apertada. Você não notou que foi só um
desabafo. Estou muito embaraçada, cara. Excedi-me nas suspeitas, reconheço.
Mathieu
sorri atravessado.
- Sua
alma sua palma. Você que se cuide, hein?
-
Abandonada, usada e, agora, puta da vida.... Ralha comigo não, nem fique
amolado com os meus chiliques. Passei dos limites, perdoa-me. De fato, devo
segurar mais a língua.
-
Esquece. Não sou tão rígido assim.
- Então
para de me olhar de cara feia...
- Tudo
bem, não se preocupe.
Suzana pega
o seu copo de cerveja, chega mais perto do amigo, e o aproxima dos seus lábios,
dizendo:
- Toma
essa cerveja aqui. Você está nervoso. Anda, bebe.
- Não se
preocupe.
- Ô,
Math, estou cansada, com raiva da vida que levo – ressalta a mulher em voz
baixa como se, de novo, pedisse desculpas.
- Já
falei.
Recompondo-se,
ela fala com mais calma:
- Eu lhe
peço mil ..., mil desculpas. Pronto, não quero dizer nenhuma palavra mais sobre
esse assunto, okay? Juro que não abro
mais a boca para falar do seu amigo. Prometo.
- Melhor
conter sua raiva. Estricção intensa rói e corrói, perturba a si e aos outros,
atrapalha. Melhor ser alegre do que triste.
- Tem
razão.
- Depois,
querida, tristeza não lhe cai bem.
- Iche!
- A raiva é um veneno que bebemos, esperando
que os outros morram. Palavras também de Shakespeare. Reflita sobre isso,
viu?
Mathieu
retomando o humor:
- Pois
então vamos mudar o rumo desse papo, abrir um sorriso grande, porque rir é o
melhor remédio para todos os males.
- É
que..., é que... – Suzana se atrapalha. - Está bom, assunto encerrado. Podemos
ser amigos de novo?
- Claro,
claro.
Depois de
um longo suspiro, Suzana:
- Meu
Deus do céu! Estou mesmo é precisando de um colinho, de um help.
-
Colinho?
- Sim, colinho,
aconchego, cafuné, toque, um momento de afeto. Bateu imensa vontade de ser
feliz de novo – murmura a mulher com a voz um pouco embargada.
- Claro.
Suzana
pula para o sofá e se acomoda ao lado do amigo. Passa o braço em volta de sua
cintura e recosta a cabeça no seu ombro. Logo ele começa a acariciar seus
cabelos. Ela:
- Ai,
precisava disso. Que bom!
- Linda!
- Meu
Deus, quantas dores um colinho pode curar?
Depois de
tomar um pouco de cerveja, Mathieu revela em voz macia:
- Gosto
muito de você, menina bonita.
- Sou-lhe
grata por isso.
- Bom.
- Sabe o
que eu quis dizer com todas essas provocações?
- Não.
- Que eu
e o Zé, às voltas com um tedioso relacionamento, há muito esquecemos que um
namora o outro. Faz tempo que o tempo fechou aqui em casa. Arre!
- Dá para
perceber.
- Entre
nós, como dois estranhos movidos a ressentimentos, gelados e duros por dentro, o
que sentimos um pelo outro é desprezo. Nada mais. Somos dois bilhetes vencidos
dentro da mesma gaveta – conta a mulher
Pausa.
Mathieu em tom recital:
- Ame a todo o momento, todos os dias, de todas
as formas e maneiras, de qualquer jeito, em todo lugar, sem culpa, sem pudores,
sem preconceitos, sem tabus, sem vergonha. Mas ame. A vida é o dever que
trouxemos para fazer em casa, ensina Mario Quintana, mostrando que a
sensualidade é algo precioso.
-
Hummmmmm!
- É o
desejo que põe fogo nas veias, querida. Faz o sangue ferver.
A mulher
eleva a cabeça com um risinho irônico, brinca:
-
Háháhá... Aqui zerou foi tudo, a cobrinha de Esculápio já perdeu o seu encanto,
joga na retranca há um bom tempo. Encolhida, mostra sua repulsão à sensualidade.
- Que
isso?
- Falo
sério.
- Isso é
mau. Muito mau.
- Penso
assim também. Em casa, a gulosa entre os lençóis sempre fui eu, principalmente,
em noites de lua cheia – conta a mulher num lamento volupioso.
Mathieu
não aguenta e cai na gargalhada. Depois fixa o olhar em Suzana, julgando
descobrir sobre seus lábios o esboço de um novo sorriso.
- Olha
só, que disposição?!
E
instila:
- A lua,
querida, sempre exerceu fascínio erógeno nas mulheres.
- Pode
ser. Desperta o vulcão que tenho dentro de mim, que pede qualquer coisa mais do
que uma capa de veludo, rapaz. Pede calor, eletricidade, movimento...
- Fera!
- Ã-Hã.
- Assim
sendo, garotinha calorosa, ouça muita música romântica e pratique muito amor.
- Oh,
céus, como sou infeliz!
Mathieu,
depois de esvaziar o copo de cerveja, brinca com ironia:
- Pelo
jeito, o maridão não anda conferindo de acordo!
- Oh,
céus, como sou infeliz! – repete a mulher com ar de gozação.
- Hein?
Suzana
começa a rir. Mathieu:
- Rindo de
quê?
- Estou
rindo porque pensei bobagens.
Ele
também ri. Ela responde em voz baixa:
- Sim,
não, quer dizer... Ah, você sabe. Rebobine. Rebobine essa, plis – pede Suzana, rindo um pouco mais alto.
* FBN© - 2012 – Mentes Perigosas..., NUMA NOITE EM 68 -
Categoria: Romance de Geração - Autor: Welington Almeida Pinto. Iustr.:
óleo sobre tela O Mundo de Frida - Alton S. Tobey - Link.: http://numanoiteem68.blogspot.com.br/2011/01/6vi-mentes-perigosas.html
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