APRESENTAÇÃO
NUMA NOITE EM 68
Livro Reflete sobre Cultura e Jornalismo
1968 - Redação EM. Foto: Evandro Santiago
1968 - O ANO DAS TRANSFORMAÇÕES.
Com a intenção de não fazer apenas uma
narrativa documentária, a forma como a trama
foi disposta, ganha corpo a realidade
que se enovela em romance, guiando o leitor a absolver,
com perceptibilidade, o que é dito sobre as
mudanças comportamentais nos anos 60.
Trabalho meticuloso, feito com riqueza
de detalhes que exigiu um longo processo de criação.
Com certo
medo da memória dos ‘Anos 60’ se diluir no tempo para as novas gerações,
convenci-me de que valia a pena tornar acessível à curiosidade apressada do presente,
algumas obstinações que marcaram a juventude ‘Paz & Amor’ do nosso passado
recente, de uma época difícil de nossa história. A partir daí, para não cair no
esquecimento, comecei a busca por ensaios literários em meus arquivos, éditos e
inéditos, que registrassem práticas de uma era de grandes mudanças no
comportamento social e político no Brasil e no mundo.
No fundo
do baú encontrei Bela Belíssima, um conto escrito em algum momento dessa
década, em que revelava grandezas e misérias do ser humano registradas no
limite entre o fidedigno e a irrealidade. A partir do ensaio, como se fizesse
um acerto de contas com o passado recente, trabalhei outros 35 novos capítulos,
enovelados no livro Numa Noite em 68 - ano considerado ápice do movimento
Liberdade & Igualdade, que sinalizava novas direções para as gerações
futuras.
Mesmo sem
acesso a diários secretos, nem a cartas perdidas, estudei a história e deixei a
imaginação fazer o resto com os olhos voltados ao acontecido no Brasil. A
intenção foi tecer um livro que refletisse sobre cultura e jornalismo da época,
dissecados por quem viveu o período, passeando entre a ficção e a
realidade.
A
narrativa aborda a vida de um jornalista/escritor, solteiro, que encarava a
mudança de comportamento com muito entusiasmo e de uma professora de
literatura, casada, que sentia certa angústia com a efervescência dos tempos
modernos. Parte da história se desenvolve numa noite de sábado do mês de
dezembro de 1968, quando Suzana recebe em casa Mathieu, um velho amigo do seu esposo
José Renato.
Outro
aspecto significativo desse trabalho é a utilização de documentos na
organização e desenvolvimento de cada tópico. No sentido mais abrangente,
reeditei registros em diferentes linguagens e experiências humanas,
especialmente, depoimentos, letras de música, textos literários, artigos de
jornal, pinturas e fotos.
Trinta e
quatro capítulos que investigam traumas históricos e rastros de um passado
presente, envolvendo o protagonista num jogo triangulado de sedução, sexo e
amor. Cada um funciona como fragmento, que possui vida própria e pode ser lido
separadamente, de um ensaio maior. Tudo como se fossem várias narrativas interligadas
que se fecham no fim.
Como
motor de um jogo atraente, trouxe para o contexto da obra pensadores, cientistas,
pintores, cineastas que oferecem importantes ferramentas para refletir sobre os
anos 60 na sua inter-relação com o mundo contemporâneo. Selecionei imagens
específicas para ilustrar cada capítulo, todas de forte efeito visual e
linguagem luminosa, a fim de criar boa conexão entre o texto e figuras
conhecidas do mundo fascinante da pintura.
Lá estão
obras de Nicola Constantin, Maria Leontina, Lucy Citty Ferreira, Sylvia Plath,
Natalia Suvorova, Irene Sheri, Anita Mafalti, Tarsila do Amaral, além de telas
de Eugène Delacroix, Van
Gogh, Renoir, Mondrian, Toulouse Lautrec, Marc-Chagall, Alton Tobey, Salvador
Dali, Di Cavalcanti, Chanina, Lazar Segall, Dickens. Boa parte desses quadros
faz parte do acervo do Museu d’Orsay, em Paris, representando o universo da Art
Nouveau.
Numa
Noite em 68 proporciona ao leitor, em ordem cronológica, conhecer episódios e
relatos que marcaram o cotidiano da vida dos brasileiros num período histórico
de opressão e sonhos. O livro, além de interessar a qualquer estudioso da
História e da Literatura Brasileira, diverte e faz refletir com porções extras
de saudades, que muitos ainda guardam. Falo do Malletão, em Belo Horizonte. O
prédio era um fervedouro de ideias, alimentado por intelectuais e jornalistas
de várias gerações, que se encontravam nos bares do mais velho shopping da cidade para debater o Brasil
daquele tempo, mesmo com os ‘Arapongas’ do Departamento de Ordem Política e
Social (DOPS) infiltrados no ambiente. O lugar era também território de resistência
e transgressão, onde nos refugiávamos durante a época de opressão política no
Brasil.
O
resultado do trabalho não tem o rigor de uma pesquisa científica, trata-se
apenas de uma experiência humana que faz um relato longo de uma época ‘muito
louca’ da biografia do Brasil e do planeta, debatendo assuntos emoldurados pelo
desejo juvenil de transformar o planeta Terra.
Com essa
publicação, contando parte da recente História do Brasil, espero ajudar o jovem
de hoje a interpretar e guardar a memória da juventude dos anos 60, que motivou
ações de restaurar a sociedade, lutou, sofreu e morreu combatendo o golpe
militar de 64 para que o nosso país fosse melhor para todos no futuro. De
acordo com Colin Cherry, quanto mais
compreendemos o passado, melhores nós entendemos o presente.
Da aldeia
para o mundo. Mais 68, impossível.
Welington Almeida Pinto
* A
história é a mais inteligível manifestação da vida, a testemunha dos tempos, a
luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida. Cícero.
* * Obra de ficção: qualquer
semelhança com pessoas, fatos ou situações reais será mera coincidência.