2011-01-03

* PRÓLOGO


*
APRESENTAÇÃO

NUMA NOITE EM 68
 Livro Reflete sobre Cultura e Jornalismo


1968 - Redação EM. Foto: Evandro Santiago
 
 

 

1968 - O ANO DAS TRANSFORMAÇÕES.

Com a intenção de não fazer apenas uma narrativa documentária, a forma como a trama

foi disposta, ganha corpo a realidade que se enovela em romance, guiando o leitor a absolver,

 com perceptibilidade, o que é dito sobre as mudanças comportamentais nos anos 60.

Trabalho meticuloso, feito com riqueza de detalhes que exigiu um longo processo de criação.

 




Com certo medo da memória dos ‘Anos 60’ se diluir no tempo para as novas gerações, convenci-me de que valia a pena tornar acessível à curiosidade apressada do presente, algumas obstinações que marcaram a juventude ‘Paz & Amor’ do nosso passado recente, de uma época difícil de nossa história. A partir daí, para não cair no esquecimento, comecei a busca por ensaios literários em meus arquivos, éditos e inéditos, que registrassem práticas de uma era de grandes mudanças no comportamento social e político no Brasil e no mundo.

No fundo do baú encontrei Bela Belíssima, um conto escrito em algum momento dessa década, em que revelava grandezas e misérias do ser humano registradas no limite entre o fidedigno e a irrealidade. A partir do ensaio, como se fizesse um acerto de contas com o passado recente, trabalhei outros 35 novos capítulos, enovelados no livro Numa Noite em 68 - ano considerado ápice do movimento Liberdade & Igualdade, que sinalizava novas direções para as gerações futuras. 

Mesmo sem acesso a diários secretos, nem a cartas perdidas, estudei a história e deixei a imaginação fazer o resto com os olhos voltados ao acontecido no Brasil. A intenção foi tecer um livro que refletisse sobre cultura e jornalismo da época, dissecados por quem viveu o período, passeando entre a ficção e a realidade. 

A narrativa aborda a vida de um jornalista/escritor, solteiro, que encarava a mudança de comportamento com muito entusiasmo e de uma professora de literatura, casada, que sentia certa angústia com a efervescência dos tempos modernos. Parte da história se desenvolve numa noite de sábado do mês de dezembro de 1968, quando Suzana recebe em casa Mathieu, um velho amigo do seu esposo José Renato.

Outro aspecto significativo desse trabalho é a utilização de documentos na organização e desenvolvimento de cada tópico. No sentido mais abrangente, reeditei registros em diferentes linguagens e experiências humanas, especialmente, depoimentos, letras de música, textos literários, artigos de jornal, pinturas e fotos.

Trinta e quatro capítulos que investigam traumas históricos e rastros de um passado presente, envolvendo o protagonista num jogo triangulado de sedução, sexo e amor. Cada um funciona como fragmento, que possui vida própria e pode ser lido separadamente, de um ensaio maior. Tudo como se fossem várias narrativas interligadas que se fecham no fim.

Como motor de um jogo atraente, trouxe para o contexto da obra pensadores, cientistas, pintores, cineastas que oferecem importantes ferramentas para refletir sobre os anos 60 na sua inter-relação com o mundo contemporâneo. Selecionei imagens específicas para ilustrar cada capítulo, todas de forte efeito visual e linguagem luminosa, a fim de criar boa conexão entre o texto e figuras conhecidas do mundo fascinante da pintura.

Lá estão obras de Nicola Constantin, Maria Leontina, Lucy Citty Ferreira, Sylvia Plath, Natalia Suvorova, Irene Sheri, Anita Mafalti, Tarsila do Amaral, além de telas de Eugène Delacroix, Van Gogh, Renoir, Mondrian, Toulouse Lautrec, Marc-Chagall, Alton Tobey, Salvador Dali, Di Cavalcanti, Chanina, Lazar Segall, Dickens. Boa parte desses quadros faz parte do acervo do Museu d’Orsay, em Paris, representando o universo da Art Nouveau.

Numa Noite em 68 proporciona ao leitor, em ordem cronológica, conhecer episódios e relatos que marcaram o cotidiano da vida dos brasileiros num período histórico de opressão e sonhos. O livro, além de interessar a qualquer estudioso da História e da Literatura Brasileira, diverte e faz refletir com porções extras de saudades, que muitos ainda guardam. Falo do Malletão, em Belo Horizonte. O prédio era um fervedouro de ideias, alimentado por intelectuais e jornalistas de várias gerações, que se encontravam nos bares do mais velho shopping da cidade para debater o Brasil daquele tempo, mesmo com os ‘Arapongas’ do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) infiltrados no ambiente. O lugar era também território de resistência e transgressão, onde nos refugiávamos durante a época de opressão política no Brasil.

O resultado do trabalho não tem o rigor de uma pesquisa científica, trata-se apenas de uma experiência humana que faz um relato longo de uma época ‘muito louca’ da biografia do Brasil e do planeta, debatendo assuntos emoldurados pelo desejo juvenil de transformar o planeta Terra.

Com essa publicação, contando parte da recente História do Brasil, espero ajudar o jovem de hoje a interpretar e guardar a memória da juventude dos anos 60, que motivou ações de restaurar a sociedade, lutou, sofreu e morreu combatendo o golpe militar de 64 para que o nosso país fosse melhor para todos no futuro. De acordo com Colin Cherry, quanto mais compreendemos o passado, melhores nós entendemos o presente.

Da aldeia para o mundo. Mais 68, impossível.
 
 

 

Welington Almeida Pinto

* A história é a mais inteligível manifestação da vida, a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida. Cícero.

* * Obra de ficção: qualquer semelhança com pessoas, fatos ou situações reais será mera coincidência.