2011-01-03

28/XXVIII - OS TEMPOS MODERNOS


*
Pierre Auguste Renoir

                                                             
                                 The Canoeists Luncheon - óleo sobre tela, 1879                                                                





         Suzana cheia de curiosidades:
- Então me conta uma coisa, Math: toda essa vida agitada que você leva ajuda a compor seus textos, seus personagens? Ou é folclore?
- Por isso mesmo carrego no bolso um bloco de anotações para registrar tudo de interessante que me vem à cabeça. A ideia que melhor respira vai parar numa folha de papel bobinada no carrinho da minha Olivetti. Aí, os personagens e situações começam a surgir no transcorrer da narrativa, cada um com sua luz, seu calor. É verdadeiro corpo a corpo com a escrita, até o nascimento de uma crônica. 
- Maravilha.
         - Certa vez, li Alberto Lobato afirmando que o ato de escrever crônicas se assemelha a um tratamento psiquiátrico. O cronista desabafa, fala de si próprio, sem ser interrompido. E o leitor faz papel de ouvinte, sem dar palpite.
         Risos. Suzana:
         - Gosto muito do que ele escreve.
         - Bom mesmo!
           Mathieu faz um sinal negativo com a cabeça.
- Reconheço que, de vez em quando, minhas crônicas são meio ácidas, mal aceitas por alguns leitores. Arre! Na segunda-feira eles entopem minha caixa postal de críticas.
- Ora, rapaz, nada fora do normal. A crônica, como prima em primeiro grau do jornalismo, aprendeu que é preciso escrever para todos. Cada fato, cada coisa, cada pessoa é como se fosse uma página viva para acrescentar informações aos leitores que querem saber de tudo. E o narrador visual é você.
- É isso. Não dá para falar só de flores, ‘né?
- Claro que não. Os cronistas, sempre ligados às contingências do presente, tornam-se porta-vozes e comentaristas da sociedade. Tudo é permitido. Cisma não, fica na sua.
Mathieu sacode da cabeça, concordando. Depois de uma tragada no cigarro, ela observa:
         - Quanto à acidez de algumas de suas crônicas, deixe de se preocupar. Faz parte de seu lado criativo, garoto! Como tem inclinação por temas de interesse social mostra que é politizado e direto, além do viés político, um tanto de comédia humana. Suas crônicas têm todos esses olhares. Salve!
         Risos. Suzana completa:
- O trabalho do cronista é, fundamentalmente, de observação sobre o cotidiano. Ele deve estar sempre pronto para registrar tudo em volta, mesmo que de forma dura. Vai em frente.
         - Sim.
         - Pelo que leio, você apresenta conteúdo para tudo e todos. Imprime em suas narrativas uma fala simples, mas com vitalidade para dizer o que pensa. Escreve direitinho. Parabéns.
         - Obrigado. Mamãe vive dizendo que eu posso escrever o que quiser. Para ela..., para ela terá sempre um leitor que vai amar o que escrevo. Outro que vai detestar.
         A professora festeja:
- Isso é ótimo. Mostra interação com seus leitores.
         - Claro. Algumas pessoas até enviam cartas sugerindo temas. Acredita?
- E você aceita?
- Quase sempre. São pareceres que enriquecem meu trabalho.
         - Ótimo. Ainda que perdidas nesse universo de comunicação social, algumas palavras dos leitores proporcionam aos seus autores, o prazer de se saberem seus textos lidos, apreciados e seguidos.
         - Ã-Hã.
- Que mais será preciso, que não o estímulo, para você continuar a 'jogar' com as palavras?
- Isso aumenta minha satisfação com o gênero, claro.
- Eu sei
         - É por aí que descobri novas trilhas de expressão na produção de pequenas histórias. Numa crônica, como todo contexto é flexível e versátil, logo podemos explorar direções diferentes, e superinteressantes.
         - Por isso mesmo, torço para que pequenas frustrações momentâneas da vida, não reflitam no seu cotidiano como produtor de cultura, viu?
         - Viu.
         - O que a gente percebe é que a crônica deu um salto de qualidade incrível nos últimos anos, desde que José de Alencar implantou esse ensaio literário como gênero jornalístico no Brasil. Chama tanta atenção da crítica literária no mundo que, há críticos defendendo que as crônicas compõem uma espécie de autobiografia intelectual e emocional do autor. Será?
         - Talvez. Às vezes até penso que minhas histórias, se colocadas em ordem cronológica, poderão constituir uma autobiografia. Muitas abordam momentos de minha vida ou da vida de outras pessoas, narrando episódios que a gente conhece bem.
- Ótimo.
         - Querida, mais uma vez, obrigado pela injeção de ânimo.
         - Não precisa agradecer. Leio por prazer e dever do ofício, porque nada melhor para ampliar a visão do que um bom livro. Na minha opinião, os mestres devem levar para a sala de aula grande parte da informação que assimilou e assimila na vida. É determinante. O desempenho da turma melhora muito.
- Ah, sim.
- Professor ensina melhor quando está disposto a aprender também. Ele fica mais estimulado, outra coisa.
- Tenho convicção disso – acende Mathieu.
- Leciono para a turma do Clássico no Colégio Estadual Central. Todo santo dia, trabalho um texto literário em classe, certa de que a leitura favorece a troca de experiências e reforça a relação professor-aluno. Enfim, a literatura é uma baita aliada da educação.
- Concordo em gênero, número grau. Parabéns. A ciência demonstra que a arte de ficção não é supérflua. Ao contrário, está fortemente enraizada na natureza humana, e é necessária a ela.
- Obviamente. Na opinião dos especialistas, ler ficção forma bons estudantes, melhora a capacidade de relacionamento e ativa os lugares certos do cérebro.
- Certamente.
- Meu objetivo, Math, é também despertar a juventude para as letras, oferecendo o livro como ferramenta e visibilidade até para quem pretende contar suas próprias histórias na vida. É o que tento fazer. Penso que a literatura pertence também a quem não vai se formar em Letras.
Pausa. Mathieu:
- Você é o máximo. Superbacana!
- Acha?
- Quero confessar uma coisa, posso?
- Pode.
- Você foge, completamente, do estereótipo de uma professora normal. Tem charme e acaba toda frase com um belo sorriso no rosto.
- Meu Deus!
         O rapaz levanta seu copo, descontraído.
         - Um brinde ao seu sorriso!
         - Tim-Tim – ergue o braço a mulher e clica seu copo de cerveja ao copo do amigo.
         - Tim-Tim!
         - Um brinde àquela que é mãe de todas as outras: a Educação.
         - Tim-Tim – repete a professora com brilho nos olhos.
         Mathieu acende um cigarro e, depois de um longa tragada, diz:
         - Muito bem... Versos e contos eu público no Suplemento Literário do Jornal Minas Geral.
- Não perco um número. Vejo nele o principal meio de comunicação entre a cultura de Minas, do Brasil e do mundo. A publicação semanal sela a era de ouro da prosa experimental no Brasil, cada vez mais enraizada em Minas Gerais. Certo?
- Certíssimo.  Sob a batuta do Murilo Rubião, a ideia é editar uma revista que mistura várias artes, mas reverenciando com força a literatura. Enfim, juntar não só gente das letras, mas também quem é conhecido por sua atuação em outras artes. Entendeu?
- Legal.
- Nosso suplemento abre espaço, principalmente, para o conto. Por isso mesmo é considerado o grande veículo estimulador do gênero entre os novos escritores brasileiros. A proposta é construir uma narrativa concisa e dinâmica, através de um texto provocativo, visceral, capaz de incitar o leitor a reagir, a sair da passividade.
- Acho ótimo, Math. Na condição de professora de literatura posso dizer que essa publicação é indispensável na elaboração de meus planos de aula. Levar o Suplemento Literário para dentro da escola é muito produtivo. Enfatiza a leitura e favorece minha turma a conhecer um pouco mais da nossa literatura de vanguarda, com seus craques da eficiência literária. No mínimo, gera curiosidades. O mundo fica bem maior para quem adquire o hábito de ler, não é mesmo?
- Evidente. A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas, por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede, garante Drummond.
- Verdade.
- Querida, posso dizer que, pelo que faz nesse trajeto de humanização, você estimula a sede da leitura em sala de aula, fortalecendo a campanha de valorização do escritor, como gente que ajuda a fazer gente.
Pausa. Suzana:
- Um dos meus objetivos nessa batalha contra o ensino de má qualidade no Brasil é trabalhar, diariamente, a leitura em sala de aula. Ajuda a formar indivíduos capazes de compreender a importância do conhecimento como instrumento de transformação social. Um dia, claro, vai fazer a diferença na vida deles, abrindo espaço para muitos perceberem luz onde antes poucos enxergavam. Isso muda o mundo, pode crer.
- Indiscutivelmente. Bom ouvir isso da boca de uma professora de literatura.
- Oh, Math, tenho plena consciência disso. Se existem jornalistas, médicos, engenheiros, artistas, qualquer profissão, antes deles houve um professor com livros, cadernos e lápis numa sala de aula para dar ênfase ao aprendizado, superando qualquer dificuldade para capacitar essa gente mundo afora.
- Ser professor é uma bandeira fascinante. É a profissão que faz todas as profissões. Assim sendo, o primeiro passo para a criação de uma cultura da educação é valorizar os professores, dando a eles a devida importância no tecido social – afirma Mathieu de forma imperiosa.
- Claro, claro. Educação não se compra pronta em qualquer esquina, se faz com determinação social.
- Mas, pelo o que a gente sabe, a grande maioria dos educadores está acomodada no seu obsoleto plano de aula, e ‘ai’ daquele que vier romper com a tradição e inventar de ter ideias para sacudir a velha sala de aula. Querida, parabéns pela iniciativa!
- Tento mudar.
- Maravilha!
Pausa. Suzana:
 - Bem, na poesia de Minas Gerais eu admiro Affonso Ávila, Laís Correia de Araújo, Bueno de Rivera, Paschoal Motta, Adão Ventura, Henry Correia de Araújo, Márcio Sampaio, Geraldo Reis, Ronald Clever, Valdemir Diniz... Ah, são tantos! Mas posso dizer que, até hoje, se destacam como maiores poetas que o Brasil produziu no século XX.
- Bom saber.
- Em prosa impressionam-me os textos de Fábio Lucas, Ildeu Brandão, Luiz Vilela, Humberto Werneck, Rui Mourão, Ângelo Oswaldo, Roberto Drummond, Luís Giffoni, Lygia Fagundes Teles, Duílio Gomes, Murilo Rubião, Autran Dourado, Luís Gonzaga Vieira, Wander Pirolli, Maria Luiza Ramos, José Renato Pimentel, Sérgio Sant’Anna, Jaime Prado Gouveia, Franklin Teixeira Salles, Oswaldo França Jr, Carlos Roberto Pellegrino, Sérgio Danilo, José Márcio Penido e Elias José que, esse ano, conquistou o segundo lugar no ‘Concurso José Lins do Rego’, contista famoso pela concisão.
- Ligada, hein? – admira Mathieu.
- Magníficos. O que não poderia ser diferente em se tratando da Geração Suplemento, que dá grande contribuição para mudar a geografia da literatura no país.
- Todos eles escrevem contos de alta qualidade. Tão bons que se igualam ao que se faz de melhor no planeta.
- Não poderia ser diferente, Math. Numa terra como a de Minas Gerais, berço de contistas do nível do Rubem Fonseca, Luiz Vilela e tantos outros dessa boa safra mineira, o conto jamais estará em baixa.
- Ã-Hã.
- Entusiasta desse gênero literário que sou, gostei muito do livro Tremor de Terra, de Luiz Vilela, premiado com o primeiro lugar no Prêmio Nacional de Ficção do ano passado, em Brasília. Como também gostei do recente No Bar, onde o autor prova que nada é tão controverso que não possa ser discutido nos bares numa linguagem simples e clara. Uma revelação. Vilela desponta como um dos mais talentosos contistas de nova safra de escritores de Minas Gerais. Ele mostra que tem bom domínio do diálogo. Isso me fascina.
O jornalista balança a testa, concordando.
- Pelo que vejo segue à risca, o que nos ensina Lygia Fagundes Telles, ao assegurar que o conto tem que desabrochar como uma fruta, como uma manga verde que você põe dentro da gaveta e espera amadurecer. Os contos de Vilela nos chegam prontos, amadurecidos.
Suzana toma um pouco mais de cerveja, acende um cigarro e diz:
- Math, leio tudo que você publica, sabia?
- Penhoradamente, eu agradeço.
- Li e amei seu poema, ilustrado pelo Chanina, na edição do último fim de semana.
- Realmente, a página ficou muito bonita.
- Detonou.
- Chanina é um grande artista. Como se produzisse versos escritos apenas com cores, ele completa meu texto gauchando as palavras de tons amarelos, verdes e azuis. Usa a cor com tamanha liberdade, que permite fusão plena entre versos e artes plásticas – confessa o rapaz, entusiasmado.
- Brilharam os dois. Chanina pinta como se o coração estivesse na ponta dos pincéis, poemas em cores. E você escreve como se o coração estivesse nas teclas da máquina de escrever. Ambos, donos do próprio ser dentro de sua alma.
- Ele também escreve, sabia?
- Sim, já li ótimos texto dele.
- Posso dizer que é um poeta com tintas surrealistas, com uma escrita livre.
- Sem dúvida.
Pausa. Mathieu:
- Querida, os pintores também nos ensinam muito sobre literatura, tanto quanto os grandes mestres da ficção.
- Talvez.
- Aprendo com eles a ver o mundo com os olhos de um artista plástico, escrevendo.
- Falando assim, lembrei Sylvia Plath. Certa vez, ela disse que um poema só está pronto quando ganha voz, quando emite e assume forma concreta, num elo direto com o receptor – observa Suzana.
- Certamente.
- Senti isso em seu poema de sábado passado. Encantou-me.
Em tom de brincadeira, o rapaz:
- Desconfie do texto que sua mãe ou sua namorada gostou.
- Háháhá! Não sou sua namorada, nem sua mãe.
         - Mas é a mais graciosa das minhas leitoras.
         - Graciosa?
         - Não é?
         - Se está falando...
         - Quem me lê deve ser objeto de meu afeto, viu?
         - Viu.
         - Posso dizer que é muito bom quando uma pessoa chega na gente com carinho e admiração. Fortalece o ego.
         - Ai, que lindo!
         - É isso.
- Sabe de uma coisa, Math, um dia gostaria de ler uma poesia sua antes de ser publicada, coisa que ninguém viu.
         - Ué, por quê?
         - Porque... Porque...
         - Fala.
         Ela baixa um pouco a voz:
- Queria ser a primeira leitora a perscrutar seus versos, posso?
         - Interessante!
         Pausa. Suzana:
         - A fantasia toma outros ares quando o leitor encontra e fala com o escritor. Fica mais real.
         - Nunca pensei nisso.
         - Posso ou não posso?
         - Sim.
         - Então me fala por que ainda não publicou um livro de poemas?
         - Coisa que sempre imaginei na vida e cair nas graças dos leitores. Todo mundo quer publicar um livro. Quer ser lido e quer ser amado pelos seus livros.
         - Sim.
         - Mas, penso que é cedo para correr atrás de uma boa editora. Ainda sou peixe miúdo. Qualquer desconhecido que já tentou publicar um livro sabe das dificuldades que é ter seus originais aceitos por uma casa editorial estabelecida.
         - Acha?
         - Dizem alguns pretendentes, cansados de esbarrar em negativas das editoras, que conseguir uma para publicar seus livros é igual a luta de um espermatozoide na corrida pela conquista do óvulo. Uma hora pode acontecer. 
Risos. Suzana em tom suave:
         - Alguns poetas compõem belos versos aos 20 anos, mas não produzem mais nada depois dos 30, eles se contentam com o que já foi feito. Outros continuam a escrever as mesmas coisas, o que é pior. Espero que, em você, o dom de avançar seja uma meta, disponibilizando sempre sua mente criativa para todos nós.
         - Pode crer.
         - Então...
         - Então..., então... Ah, Suzana, tenho uma novidade.
- Qual?
          - Comprei um mimeógrafo. Pretendo entrar para valer no bonde dos poetas marginais, independentes. Quero produzir livros de maneira artesanal e assumir voo próprio no circuito alternativo. Auto publicação, sabe como é?
- Que ‘barato’!
- Trabalho braçal mesmo.      
         - Eventualmente, sou pega de surpresa na rua por jovens me perguntando: gosta de poesia?
         Risos. Mathieu:
         - Cena que, hoje em dia, faz parte do espetáculo urbana. Desse jeito, livres e atirados, eles encontram outra saída para produzir cultura e, ao largo da rejeição das editoras estabelecidas, vender seus livretos.
         - Sem dúvida, estão aí para ocupar a cidade pela poesia e muita perseverança. Vejo o movimento com muita simpatia. Acho ótimo essa gente tornar as ruas uma possibilidade de espaço para produção independente.
- Compra?
         - Dou a maior força. Admiro a ousadia, a perseverança dessa trupe de jovens poetas que agita a poesia em um ambiente bastante dinâmico: a rua. Têm muito valor, sim. Sempre que posso, levo um exemplar para ler em casa, e ainda por um preço mais em conta. Não apresenta contraindicação.
- Bom saber. Para a poesia são necessários dois poetas: um que escreve e outro que lê, disse Aires da Mata Machado. Cora Coralina, completou: ... Poeta, não é somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso.
- Sem dúvida. A existência, Math, é bem mais rica com poesia, portanto toda literatura que se afasta da vida não é legal, é falsa.
- Ã-Hã.
- Vejo que são jovens. Entre outras coisas é a juventude que amo neles.
         Pausa. Mathieu, soltando fumaça do cigarro no ar:
         - Nada mal. Poetas que estão ganhando a vida na garganta. Com certeza, terei orgulho de fazer parte dessa grande gangue de sonhadores.
         - É excitante ser jovem no Brasil agora. Em todos os sentidos, claro. Há muita coisa acontecendo também em nossa cena artística e cultural, é um tempo perfeito para criar. Vai curtir bastante publicar seu livro assim, claro.
         - Muito bem. Eu aspiro rodar poemas em desordem métrica, quebrando regras. Sabe como é: poesia com cheiro de álcool para circular de bar em bar entre amigos. Alguns foram publicados no Jornal de Letras, do Rio de Janeiro.
         - Ótimo.
         - Sabia que essa pequena impressora, objeto que já vem perdendo espaço para novas tecnologias, foi inventada pelo norte-americano Albert Blake Dick?
A mulher admirada:
         - Uai, não foi por Thomas Edison?
         - O criador da lâmpada elétrica deu uma de espertalhão. Após algumas modificações conseguiu a patente com sendo invenção de sua autoria.
         - Ah, essa é boa!
         - Quebra um galhão. Daqui algum tempo, com o avanço da tecnologia, quem olhar para um mimeógrafo será como olhar para um passado distante. O equipamento será visto como ancestral das impressoras movidas manivela.
         Risos. Admirada, Suzana estimula:
         - Então aproveita o famoso ‘cachacinha’ e imprima seu livro nessa velha máquina. Vai fundo, Math, dou a maior força.
         - Gracias!
         - Lá no Colégio Estadual Central estarei à sua disposição para difundir seu trabalho, viu?
         - Maravilha – comemora o rapaz.
         - No que depender de mim, pode contar.
         - Bom saber que a literatura nunca é esquecida pelos professores de colégios e das faculdades em Belo Horizonte.
         - Com a maior felicidade.
         - Pois bem. Não quer me dar uma forcinha na revisão final?
         - Com prazer. Pode mandar, sou boa nisso.
         - Fique tranquila que não escrevi um calhamaço de mil folhas. Trata-se de um volume magro de poesias, cerca de cem páginas datilografadas.
         - Beleza. Soon the book will be on my table, revised.
           Mathieu aperta-lhe a mão de leve, dizendo:
- Thank you. Conforta-me saber que você estende suas mãos para o meu trabalho.
- Isso é bom.
- Eu gosto de livros, não tem jeito. Desde menino é assim. Posso dizer que a literatura foi meu primeiro amor, porque a palavra escrita me possibilitou descobrir o mundo com o olhar da sensibilidade. Nasci para isso. Não consigo dominar o raio da excitação pela literatura?!...
- Nada lhe falta, nada lhe sobra – afiança Suzana com alegria acesa nos olhos, parafraseando Drummond.
         - Bom ouvir isso, massageia o ego. Vaidade literária, definitivamente, é o meu pecado favorito.
 




 
 
* FBN© - 2012 – Os Tempos Modernos ....,  NUMA  NOITE  EM  68 - Categoria: Romance de Geração - Autor: Welington Almeida Pinto. Iustr.:  The Canoeists Luncheon, de Pierre Auguste Renoir -1879 – Link: http://numanoiteem68.blogspot.com.br/2011/01/29-xxvix-memoria-feita-de-fantasias.html?zx=55c956a120bcc2da


 


 

 
 
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