*
Pierre Auguste Renoir
The Canoeists Luncheon - óleo sobre tela, 1879
Suzana cheia de curiosidades:
- Então
me conta uma coisa, Math: toda essa vida agitada que você leva ajuda a compor
seus textos, seus personagens? Ou é folclore?
- Por
isso mesmo carrego no bolso um bloco de anotações para registrar tudo de
interessante que me vem à cabeça. A ideia que melhor respira vai parar numa
folha de papel bobinada no carrinho da minha Olivetti. Aí, os personagens e
situações começam a surgir no transcorrer da narrativa, cada um com sua luz,
seu calor. É verdadeiro corpo a corpo com a escrita, até o nascimento de uma
crônica.
-
Maravilha.
-
Certa vez, li Alberto Lobato afirmando que o ato de escrever crônicas se
assemelha a um tratamento psiquiátrico. O cronista desabafa, fala de si
próprio, sem ser interrompido. E o leitor faz papel de ouvinte, sem dar
palpite.
Risos.
Suzana:
-
Gosto muito do que ele escreve.
-
Bom mesmo!
Mathieu faz um sinal negativo com a
cabeça.
-
Reconheço que, de vez em quando, minhas crônicas são meio ácidas, mal aceitas
por alguns leitores. Arre! Na segunda-feira eles entopem minha caixa postal de
críticas.
- Ora,
rapaz, nada fora do normal. A crônica, como prima em primeiro grau do
jornalismo, aprendeu que é preciso escrever para todos. Cada fato, cada coisa,
cada pessoa é como se fosse uma página viva para acrescentar informações aos
leitores que querem saber de tudo. E o narrador visual é você.
- É isso.
Não dá para falar só de flores, ‘né?
- Claro
que não. Os cronistas, sempre ligados às contingências do presente,
tornam-se porta-vozes e comentaristas da sociedade. Tudo é permitido. Cisma
não, fica na sua.
Mathieu
sacode da cabeça, concordando. Depois de uma tragada no cigarro, ela observa:
-
Quanto à acidez de algumas de suas crônicas, deixe de se preocupar. Faz parte
de seu lado criativo, garoto! Como tem inclinação por temas de interesse social
mostra que é politizado e direto, além do viés político, um tanto de comédia
humana. Suas crônicas têm todos esses olhares. Salve!
Risos.
Suzana completa:
- O
trabalho do cronista é, fundamentalmente, de observação sobre o cotidiano. Ele
deve estar sempre pronto para registrar tudo em volta, mesmo que de forma dura.
Vai em frente.
-
Sim.
-
Pelo que leio, você apresenta conteúdo para tudo e todos. Imprime em suas
narrativas uma fala simples, mas com vitalidade para dizer o que pensa. Escreve
direitinho. Parabéns.
-
Obrigado. Mamãe vive dizendo que eu posso escrever o que quiser. Para ela...,
para ela terá sempre um leitor que vai amar o que escrevo. Outro que vai
detestar.
A
professora festeja:
- Isso é
ótimo. Mostra interação com seus leitores.
-
Claro. Algumas pessoas até enviam cartas sugerindo temas. Acredita?
- E você
aceita?
- Quase sempre.
São pareceres que enriquecem meu trabalho.
-
Ótimo. Ainda que perdidas nesse universo de comunicação social, algumas
palavras dos leitores proporcionam aos seus autores, o prazer de se saberem
seus textos lidos, apreciados e seguidos.
-
Ã-Hã.
- Que
mais será preciso, que não o estímulo, para você continuar a 'jogar' com as
palavras?
- Isso
aumenta minha satisfação com o gênero, claro.
- Eu sei
-
É por aí que descobri novas trilhas de expressão na produção de pequenas
histórias. Numa crônica, como todo contexto é flexível e versátil, logo podemos
explorar direções diferentes, e superinteressantes.
-
Por isso mesmo, torço para que pequenas frustrações momentâneas da vida, não
reflitam no seu cotidiano como produtor de cultura, viu?
-
Viu.
-
O que a gente percebe é que a crônica deu um salto de qualidade incrível nos
últimos anos, desde que José de Alencar implantou esse ensaio literário como
gênero jornalístico no Brasil. Chama tanta atenção da crítica literária no
mundo que, há críticos defendendo que as crônicas compõem uma espécie de
autobiografia intelectual e emocional do autor. Será?
-
Talvez. Às vezes até penso que minhas histórias, se colocadas em ordem
cronológica, poderão constituir uma autobiografia. Muitas abordam momentos de
minha vida ou da vida de outras pessoas, narrando episódios que a gente conhece
bem.
- Ótimo.
-
Querida, mais uma vez, obrigado pela injeção de ânimo.
-
Não precisa agradecer. Leio por prazer e dever do ofício, porque nada melhor
para ampliar a visão do que um bom livro. Na minha opinião, os mestres devem
levar para a sala de aula grande parte da informação que assimilou e assimila
na vida. É determinante. O desempenho da turma melhora muito.
- Ah,
sim.
- Professor
ensina melhor quando está disposto a aprender também. Ele fica mais estimulado,
outra coisa.
- Tenho
convicção disso – acende Mathieu.
- Leciono
para a turma do Clássico no Colégio Estadual Central. Todo santo dia,
trabalho um texto literário em classe, certa de que a leitura favorece a troca
de experiências e reforça a relação professor-aluno. Enfim, a literatura é uma
baita aliada da educação.
-
Concordo em gênero, número grau. Parabéns. A ciência demonstra que a arte de
ficção não é supérflua. Ao contrário, está fortemente enraizada na natureza
humana, e é necessária a ela.
- Obviamente.
Na opinião dos especialistas, ler ficção forma bons estudantes, melhora a
capacidade de relacionamento e ativa os lugares certos do cérebro.
-
Certamente.
- Meu
objetivo, Math, é também despertar a juventude para as letras, oferecendo o
livro como ferramenta e visibilidade até para quem pretende contar suas
próprias histórias na vida. É o que tento fazer. Penso que a literatura
pertence também a quem não vai se formar em Letras.
Pausa.
Mathieu:
- Você é
o máximo. Superbacana!
- Acha?
- Quero
confessar uma coisa, posso?
- Pode.
- Você
foge, completamente, do estereótipo de uma professora normal. Tem charme e
acaba toda frase com um belo sorriso no rosto.
- Meu
Deus!
O
rapaz levanta seu copo, descontraído.
-
Um brinde ao seu sorriso!
-
Tim-Tim – ergue o braço a mulher e clica seu copo de cerveja ao copo do amigo.
-
Tim-Tim!
-
Um brinde àquela que é mãe de todas as outras: a Educação.
-
Tim-Tim – repete a professora com brilho nos olhos.
Mathieu
acende um cigarro e, depois de um longa tragada, diz:
-
Muito bem... Versos e contos eu público no Suplemento Literário do Jornal Minas
Geral.
- Não
perco um número. Vejo nele o principal meio de comunicação entre a cultura de
Minas, do Brasil e do mundo. A publicação semanal sela a era de ouro da prosa
experimental no Brasil, cada vez mais enraizada em Minas Gerais. Certo?
-
Certíssimo. Sob a batuta do Murilo Rubião, a ideia é editar uma revista
que mistura várias artes, mas reverenciando com força a literatura. Enfim,
juntar não só gente das letras, mas também quem é conhecido por sua atuação em
outras artes. Entendeu?
- Legal.
- Nosso
suplemento abre espaço, principalmente, para o conto. Por isso mesmo é
considerado o grande veículo estimulador do gênero entre os novos escritores
brasileiros. A proposta é construir uma narrativa concisa e dinâmica, através
de um texto provocativo, visceral, capaz de incitar o leitor a reagir, a sair
da passividade.
- Acho
ótimo, Math. Na condição de professora de literatura posso dizer que essa
publicação é indispensável na elaboração de meus planos de aula. Levar o
Suplemento Literário para dentro da escola é muito produtivo. Enfatiza a
leitura e favorece minha turma a conhecer um pouco mais da nossa literatura de
vanguarda, com seus craques da eficiência literária. No mínimo, gera
curiosidades. O mundo fica bem maior para quem adquire o hábito de ler, não é
mesmo?
-
Evidente. A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas, por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede,
garante Drummond.
-
Verdade.
-
Querida, posso dizer que, pelo que faz nesse trajeto de humanização, você
estimula a sede da leitura em sala de aula, fortalecendo a campanha de
valorização do escritor, como gente que ajuda a fazer gente.
Pausa.
Suzana:
- Um dos
meus objetivos nessa batalha contra o ensino de má qualidade no Brasil é
trabalhar, diariamente, a leitura em sala de aula. Ajuda a formar indivíduos
capazes de compreender a importância do conhecimento como instrumento de
transformação social. Um dia, claro, vai fazer a diferença na vida deles,
abrindo espaço para muitos perceberem luz onde antes poucos enxergavam. Isso
muda o mundo, pode crer.
- Indiscutivelmente.
Bom ouvir isso da boca de uma professora de literatura.
- Oh,
Math, tenho plena consciência disso. Se existem jornalistas, médicos,
engenheiros, artistas, qualquer profissão, antes deles houve um professor com
livros, cadernos e lápis numa sala de aula para dar ênfase ao aprendizado,
superando qualquer dificuldade para capacitar essa gente mundo afora.
- Ser professor
é uma bandeira fascinante. É a profissão que faz todas as profissões. Assim
sendo, o primeiro passo para a criação de uma cultura da educação é valorizar
os professores, dando a eles a devida importância no tecido social – afirma
Mathieu de forma imperiosa.
- Claro,
claro. Educação não se compra pronta em qualquer esquina, se faz com
determinação social.
- Mas,
pelo o que a gente sabe, a grande maioria dos educadores está acomodada no seu
obsoleto plano de aula, e ‘ai’ daquele que vier romper com a tradição e
inventar de ter ideias para sacudir a velha sala de aula. Querida, parabéns
pela iniciativa!
- Tento
mudar.
-
Maravilha!
Pausa.
Suzana:
-
Bem, na poesia de Minas Gerais eu admiro Affonso Ávila, Laís Correia de Araújo,
Bueno de Rivera, Paschoal Motta, Adão Ventura, Henry Correia de Araújo, Márcio
Sampaio, Geraldo Reis, Ronald Clever, Valdemir Diniz... Ah, são tantos! Mas
posso dizer que, até hoje, se destacam como maiores poetas que o Brasil
produziu no século XX.
- Bom
saber.
- Em
prosa impressionam-me os textos de Fábio Lucas, Ildeu Brandão, Luiz Vilela,
Humberto Werneck, Rui Mourão, Ângelo Oswaldo, Roberto Drummond, Luís Giffoni,
Lygia Fagundes Teles, Duílio Gomes, Murilo Rubião, Autran Dourado, Luís Gonzaga
Vieira, Wander Pirolli, Maria Luiza Ramos, José Renato Pimentel, Sérgio
Sant’Anna, Jaime Prado Gouveia, Franklin Teixeira Salles, Oswaldo França Jr,
Carlos Roberto Pellegrino, Sérgio Danilo, José Márcio Penido e Elias José que,
esse ano, conquistou o segundo lugar no ‘Concurso José Lins do Rego’, contista
famoso pela concisão.
- Ligada,
hein? – admira Mathieu.
- Magníficos.
O que não poderia ser diferente em se tratando da Geração Suplemento, que dá
grande contribuição para mudar a geografia da literatura no país.
- Todos
eles escrevem contos de alta qualidade. Tão bons que se igualam ao que se faz
de melhor no planeta.
- Não
poderia ser diferente, Math. Numa terra como a de Minas Gerais, berço de
contistas do nível do Rubem Fonseca, Luiz Vilela e tantos outros dessa boa
safra mineira, o conto jamais estará em baixa.
- Ã-Hã.
-
Entusiasta desse gênero literário que sou, gostei muito do livro Tremor de
Terra, de Luiz Vilela, premiado com o primeiro lugar no Prêmio Nacional de
Ficção do ano passado, em Brasília. Como também gostei do recente No Bar, onde
o autor prova que nada é tão controverso que não possa ser discutido nos bares
numa linguagem simples e clara. Uma revelação. Vilela desponta como um dos mais
talentosos contistas de nova safra de escritores de Minas Gerais. Ele mostra
que tem bom domínio do diálogo. Isso me fascina.
O
jornalista balança a testa, concordando.
- Pelo
que vejo segue à risca, o que nos ensina Lygia Fagundes Telles, ao assegurar
que o conto tem que desabrochar como uma
fruta, como uma manga verde que você põe dentro da gaveta e espera amadurecer. Os
contos de Vilela nos chegam prontos, amadurecidos.
Suzana
toma um pouco mais de cerveja, acende um cigarro e diz:
- Math,
leio tudo que você publica, sabia?
-
Penhoradamente, eu agradeço.
- Li e
amei seu poema, ilustrado pelo Chanina, na edição do último fim de semana.
-
Realmente, a página ficou muito bonita.
-
Detonou.
- Chanina
é um grande artista. Como se produzisse versos escritos apenas com cores, ele
completa meu texto gauchando as palavras de tons amarelos, verdes e azuis. Usa
a cor com tamanha liberdade, que permite fusão plena entre versos e artes
plásticas – confessa o rapaz, entusiasmado.
-
Brilharam os dois. Chanina pinta como se o coração estivesse na ponta dos
pincéis, poemas em cores. E você escreve como se o coração estivesse nas teclas
da máquina de escrever. Ambos, donos do próprio ser dentro de sua alma.
- Ele
também escreve, sabia?
- Sim, já
li ótimos texto dele.
- Posso
dizer que é um poeta com tintas surrealistas, com uma escrita livre.
- Sem
dúvida.
Pausa.
Mathieu:
-
Querida, os pintores também nos ensinam muito sobre literatura, tanto quanto os
grandes mestres da ficção.
- Talvez.
- Aprendo
com eles a ver o mundo com os olhos de um artista plástico, escrevendo.
- Falando
assim, lembrei Sylvia Plath. Certa vez, ela disse que um poema só está pronto
quando ganha voz, quando emite e assume forma concreta, num elo direto com o
receptor – observa Suzana.
-
Certamente.
- Senti
isso em seu poema de sábado passado. Encantou-me.
Em tom de
brincadeira, o rapaz:
-
Desconfie do texto que sua mãe ou sua namorada gostou.
- Háháhá!
Não sou sua namorada, nem sua mãe.
-
Mas é a mais graciosa das minhas leitoras.
-
Graciosa?
-
Não é?
-
Se está falando...
-
Quem me lê deve ser objeto de meu afeto, viu?
-
Viu.
-
Posso dizer que é muito bom quando uma pessoa chega na gente com carinho e
admiração. Fortalece o ego.
-
Ai, que lindo!
-
É isso.
- Sabe de
uma coisa, Math, um dia gostaria de ler uma poesia sua antes de ser publicada,
coisa que ninguém viu.
-
Ué, por quê?
-
Porque... Porque...
-
Fala.
Ela
baixa um pouco a voz:
- Queria
ser a primeira leitora a perscrutar seus versos, posso?
-
Interessante!
Pausa.
Suzana:
-
A fantasia toma outros ares quando o leitor encontra e fala com o escritor.
Fica mais real.
-
Nunca pensei nisso.
-
Posso ou não posso?
-
Sim.
-
Então me fala por que ainda não publicou um livro de poemas?
-
Coisa que sempre imaginei na vida e cair nas graças dos leitores. Todo mundo
quer publicar um livro. Quer ser lido e quer ser amado pelos seus livros.
-
Sim.
-
Mas, penso que é cedo para correr atrás de uma boa editora. Ainda sou peixe
miúdo. Qualquer desconhecido que já tentou publicar um livro sabe das
dificuldades que é ter seus originais aceitos por uma casa editorial
estabelecida.
-
Acha?
-
Dizem alguns pretendentes, cansados de esbarrar em negativas das editoras, que
conseguir uma para publicar seus livros é igual a luta de um espermatozoide na
corrida pela conquista do óvulo. Uma hora pode acontecer.
Risos.
Suzana em tom suave:
-
Alguns poetas compõem belos versos aos 20 anos, mas não produzem mais nada
depois dos 30, eles se contentam com o que já foi feito. Outros continuam a
escrever as mesmas coisas, o que é pior. Espero que, em você, o dom de avançar
seja uma meta, disponibilizando sempre sua mente criativa para todos nós.
-
Pode crer.
-
Então...
-
Então..., então... Ah, Suzana, tenho uma novidade.
- Qual?
- Comprei um mimeógrafo. Pretendo
entrar para valer no bonde dos poetas marginais, independentes. Quero produzir
livros de maneira artesanal e assumir voo próprio no circuito alternativo. Auto
publicação, sabe como é?
- Que
‘barato’!
-
Trabalho braçal mesmo.
-
Eventualmente, sou pega de surpresa na rua por jovens me perguntando: gosta de
poesia?
Risos.
Mathieu:
-
Cena que, hoje em dia, faz parte do espetáculo urbana. Desse jeito, livres e
atirados, eles encontram outra saída para produzir cultura e, ao largo da
rejeição das editoras estabelecidas, vender seus livretos.
-
Sem dúvida, estão aí para ocupar a cidade pela poesia e muita perseverança. Vejo
o movimento com muita simpatia. Acho ótimo essa gente tornar as ruas uma
possibilidade de espaço para produção independente.
- Compra?
-
Dou a maior força. Admiro a ousadia, a perseverança dessa trupe de jovens
poetas que agita a poesia em um ambiente bastante dinâmico: a rua. Têm muito
valor, sim. Sempre que posso, levo um exemplar para ler em casa, e ainda por um
preço mais em conta. Não apresenta contraindicação.
- Bom
saber. Para a poesia são necessários dois poetas: um que escreve e outro que lê, disse Aires da Mata Machado. Cora
Coralina, completou: ... Poeta, não é
somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao
achado de uma rima à autenticidade de um verso.
- Sem
dúvida. A existência, Math, é bem mais rica com poesia, portanto toda
literatura que se afasta da vida não é legal, é falsa.
- Ã-Hã.
- Vejo
que são jovens. Entre outras coisas é a juventude que amo neles.
Pausa.
Mathieu, soltando fumaça do cigarro no ar:
-
Nada mal. Poetas que estão ganhando a vida na garganta. Com certeza, terei orgulho
de fazer parte dessa grande gangue de sonhadores.
-
É excitante ser jovem no Brasil agora. Em todos os sentidos, claro. Há muita
coisa acontecendo também em nossa cena artística e cultural, é um tempo
perfeito para criar. Vai curtir bastante publicar seu livro assim, claro.
-
Muito bem. Eu aspiro rodar poemas em desordem métrica, quebrando regras. Sabe
como é: poesia com cheiro de álcool para circular de bar em bar entre amigos.
Alguns foram publicados no Jornal de Letras, do Rio de Janeiro.
-
Ótimo.
-
Sabia que essa pequena impressora, objeto que já vem perdendo espaço para novas
tecnologias, foi inventada pelo norte-americano Albert Blake Dick?
A mulher
admirada:
-
Uai, não foi por Thomas Edison?
-
O criador da lâmpada elétrica deu uma de espertalhão. Após algumas modificações
conseguiu a patente com sendo invenção de sua autoria.
-
Ah, essa é boa!
-
Quebra um galhão. Daqui algum tempo, com o avanço da tecnologia, quem olhar
para um mimeógrafo será como olhar para um passado distante. O equipamento será
visto como ancestral das impressoras movidas manivela.
Risos.
Admirada, Suzana estimula:
-
Então aproveita o famoso ‘cachacinha’ e imprima seu livro nessa velha máquina.
Vai fundo, Math, dou a maior força.
-
Gracias!
-
Lá no Colégio Estadual Central estarei à sua disposição para difundir seu
trabalho, viu?
-
Maravilha – comemora o rapaz.
-
No que depender de mim, pode contar.
-
Bom saber que a literatura nunca é esquecida pelos professores de colégios e
das faculdades em Belo Horizonte.
-
Com a maior felicidade.
-
Pois bem. Não quer me dar uma forcinha na revisão final?
-
Com prazer. Pode mandar, sou boa nisso.
-
Fique tranquila que não escrevi um calhamaço de mil folhas. Trata-se de um
volume magro de poesias, cerca de cem páginas datilografadas.
-
Beleza. Soon the book will be on my table, revised.
Mathieu aperta-lhe a mão de leve, dizendo:
- Thank you. Conforta-me saber que você
estende suas mãos para o meu trabalho.
- Isso é
bom.
- Eu
gosto de livros, não tem jeito. Desde menino é assim. Posso dizer que a
literatura foi meu primeiro amor, porque a palavra escrita me possibilitou
descobrir o mundo com o olhar da sensibilidade. Nasci para isso. Não consigo
dominar o raio da excitação pela literatura?!...
- Nada
lhe falta, nada lhe sobra – afiança Suzana com alegria acesa nos olhos,
parafraseando Drummond.
- Bom ouvir isso, massageia o ego. Vaidade literária, definitivamente, é o meu
pecado favorito.
* FBN© - 2012 – Os Tempos Modernos ...., NUMA
NOITE EM 68 - Categoria: Romance de Geração - Autor: Welington
Almeida Pinto. Iustr.: The Canoeists Luncheon, de Pierre Auguste Renoir
-1879 – Link: http://numanoiteem68.blogspot.com.br/2011/01/29-xxvix-memoria-feita-de-fantasias.html?zx=55c956a120bcc2da
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