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Sétima Arte
CinemaScope. Color by deLuxe
Sétima Arte
CinemaScope. Color by deLuxe
Catherine Deneuve fotografada com Ives Saint-Laurent no lançamento do
do filme Belle de Jour, Paris.
do filme Belle de Jour, Paris.
Suzana, espalhando a fumaça do
cigarro com a mão, pergunta:
- E você,
Math, vai muito ao cinema?
- Ah,
sim, sou cinéfilo roxo. O bichinho da sétima arte me pegou desde cedo –
responde o rapaz num tom imperioso.
- Aposto
que não perde nenhuma chanchada em cartaz na cidade.
- Talvez.
Faço parte do CEC.
- Hein?
- Centro
de Estudos Cinematográficos.
-
Maravilha.
- Eu me
divirto muito com as velhas e sutis comédias brasileiras. Croc-croc! Sempre com
um saquinho de pipocas na mão.
-
Delícia! Adoro pipocas.
- Gosta
de comédia, Suzana?
- Não
descarto. Mas, desqualifico a maioria, especialmente, aquelas que se nutrem da
arte da pancadaria, da porrada cômica. Não suporto.
- Mesmo?
- As que
exploram humor negro, então! Nelas há escárnio, desesperança... Detesto.
- Bem...
Bem... No momento político brasileiro, pressionado pelo regime militar, o povo
precisa respirar. A chanchada acaba tendo essa função. Humor é coisa séria,
Suzana. Como seu fim é fazer o povo divertir, consegue melhorar o astral da
alma de milhares de brasileiros.
- Talvez.
Pausa.
Mathieu:
- Sabia
que o primeiro filme cômico que se tem notícia no planeta é o Regador Regado,
de 1896, dos irmãos Lumière?
-
Maravilha.
- Quando foi a estreia do personagem
Carlito, de Chaplin?
- Em 1914
com a película Uma Corrida de Carro para Meninos. Não é um filme bom, mas as risadas são
possíveis.
- Legal.
-
Particularmente, não acho a comédia um gênero menor. O gênero quase sempre
apresenta características de fazer pensar e levar à reflexão, porque há um traço
de melancolia no comediante. São eles verdadeiras janelas abertas para o mundo.
- Talvez.
- O
cinema cômico vai do palhaço mais clown,
como Chaplin com seu humor inteligente, passando pelo poético Jacques Tati com
seu brilho no texto, até nossas Chanchadas que produzem fitas para explorar o
ingênuo, o sutil, o escrachado..., humor para o que der e vier.
- Háháhá!
O pato versus o ganso: quak!..., quak!... – imita Suzana o cacarejo de um pato.
Mathieu
solta uma gargalhada. Depois de um gole de cerveja e uma longa tragada no cigarro,
diz:
- O
momento atual do mercado mundial aposta nas comédias como receita certa para as
bilheterias, que logo caem nas graças do povão. O diretor Carlos Manga, como
rei da chanchada, é quem mais pode falar sobre isso. Dois elementos ele jamais
abandona em seus filmes: o riso e a sexualidade.
- É.
-Então não
gosta de nossa chanchada?
- Não me
atrai nem um pouco.
- Não?
- Não.
Quase sempre muita apelação, baixaria.
- Pois eu
curto. Ankito, quase sem palavras e progressivas nuanças no rosto, conta histórias
bobas que dão para rolar de rir. Zé Trindade é outro que diverte bem com seus
trocadilhos de duplo sentido. Seu lance é interpretar várias facetas de um
inquieto mulherengo, que vive a malandragem carioca com sua mente intoxicada
pelos ‘roliços mocotós’ das atrizes, isto é, pelas pernas roliças e apetitosas
das moças. Do mesmo modo, Grande Otelo e Oscarito, craques do riso com talento
tamanho GG, que fazem humor inteligente, fino e ironia implacável, provocando
gargalhadas na plateia. Dupla perfeita.
-
Bobeira. Chanchada, seja qual for, passeia pelo território do escracho, do
chulo, do besteirol. Tenho aversão instintiva por essas mixórdias – reprova
Suzana.
O rapaz
pousa a mão sobre a dela:
- Também
não precisa distorcer tanto.
- Não é?
- Chanchada
é alegria para o povão, que ri até não poder mais por um precinho de uma
entrada de cinema. Patrimônio cultural referenciado até pelo presidente Getúlio
Vargas, que se ligava nas fitas sabendo que rir é o melhor remédio os seus
súditos. Por isso mesmo a comédia oferece bons lucros.
- É.
- O
gênero retrata o bom-humor como característica nacional. Até os anos 1930 nosso
cinema era visto como amador, mas a partir daí novos cineastas descobriram um
público imenso disposto a rir apenas, até então negligenciado pela indústria
cinematográfica. O Brasil é um dos países com mais salas de exibição do
planeta, invadidos pela comédia, sabia?
- Pode
até ser.
- Fazer
rir dá muito trabalho, até porque uma das funções do humor é também despertar a
consciência das pessoas. Veja o humor inteligente de Juca Chaves. O
pequeno notável está sempre de plantão para apontar o risível das decisões políticas
do Distrito Federal. Suzana, agredir e tentar impedir o absoluto está no mote
de uma comédia.
- Adoro o
Juca.
Mathieu,
tira do maço mais um cigarro e acende.
- Além
disso, inspiradas nas chanchadas, muitas peças publicitárias foram criadas para
atrair turistas ao Rio de Janeiro, dispostos a participar da vida animada e
envolvente da Cidade Maravilhosa.
- Ótimo.
- Sem
falar que, para outros, as chanchadas trazem lembranças de uma época de ouro do
Teatro de Revista.
- Das vedetes?
Com um
risinho meio debochado, o rapaz inclinando e colocando a mão sobre as pernas da
amiga:
- Elas
estiveram no palco para promover a beleza do belo, querida. Em poses sensuais,
as vedetes brasileiras satisfaziam tanto ao gosto do momento, quanto ao que é
sexualmente estimulante e erótico para divertir homens de todos os níveis. Arrebatadoras! Apresentavam-se
com muito glamour e as pernas mais bonitas do mundo, capazes de atrair atenção
até dos deuses.
- Háháhá!
- É
sério. Todas com muito it, gozavam de
uma popularidade imensa. Sorridentes, cheias de curvas e muito bem produzidas
causavam o maior rebuliço na plateia do teatro rebolado, onde só o silêncio era
proibido. A maior festa de fantasias para os olhos masculinos, pode crer.
- Hummmmm!
-
Extraordinariamente loucas eram admiradas por um mundo de homens reais, ao vivo
e a cores, como se estivessem ali curtindo um Moulin Rouge no Rio de Janeiro.
Lindas de ver, lindas de ouvir, o maior sucesso!
-
Imagino.
- Uma
coisa era você ver uma vedete nas páginas das revistas. Outra coisa era você
sentir o pulsar erótico do original em cena no Teatro de Revista com suas
plumas multicoloridas. Excita muito mais, o maior show da vida!
- Que
coisa!
- As
vedetes, destinadas a instigar e divertir, eram mesmo surpreendentes. Mantinham
o tempo todo o PhD de pop star em
alta, abrindo o misterioso ‘eu feminino’ aos espectadores empolgados. Tudo como
se quisessem ser consumidas como um bom aparelho elétrico de uso diário. Quanto
mais versátil, melhor.
- Ave
Maria!
-
Impressionante a capacidade de transformação delas no picadeiro. Durante um
espetáculo, algumas mudavam a tal ponto a própria imagem que, muitas vezes, nem
se reconheciam depois na foto do repórter fotográfico de plantão.
- Por
onde andam?
- Hoje em
dia joias cada vez mais raras de garimpar. Estão desaparecendo do mapa com tudo
que faziam pela sensualidade do rebolado, que mantinha acesos todos os tesões
da visibilidade teatral – afirma o rapaz, sorrindo.
- Sinto muito.
- Posso
dizer que o Teatro Revista chegou ao fim, quando caiu o pano sobre o último
espetáculo produzido por Walter Pinto. Acabou-se sem o Grand-final de cascatas borbulhantes, mas com um elenco de 100
figurantes entoando a canção Na Baixa do Sapateiro, enquanto pombas brancas
voavam do meio de uma bandeira do Brasil, em direção à plateia
deslumbrada. Posteriormente, nada de
novo.
- Sério?
- Sério.
Depois da apoteose da Companhia de Teatro Pinto, o Teatro Rebolado tomou
outro rumo. Fantasiado de travestis refugiou-se nas boates e perdeu seu público
tradicional.
- Cacildis!
- Ser
vedete, querida, está fora da moda. O símbolo sexual ganhou outro nome:
manequim. Moçoilas com maquilagem ousada no rosto e cara fechada constante, sem
um pingo de alegria e nenhum prazer estético, é que estão em alta, na moda.
- Ã-Hã.
- Pior: branquíssimas,
anoréxicas, mesmo sabendo que os médicos alertam que a linha que separa a
magreza da doença é tão fina quanto a cintura das garotas, que se submetem à
ditadura da julgada elegância.
- Isso
mesmo. Todas adoecidas pela obsessão da pseudo boa forma, presas a um padrão de
beleza ditado pela ditadura da hipocrisia imbecil da passarela – avalia Suzana.
- Basta
ver as manecas do Denner na passarela que se apresentam com braços
escalavrados, pernas nodosas e o rosto encovado, desfilando com trajes criados
por uma trupe de ‘bichonas’ cheias de frufrus, que ninguém tem a audácia de
usar em lugar nenhum. Babaquice!
Risos.
Suzana:
- Sem
exagero, querido.
-
Exatamente o contrário das antigas vedetes que, cheias de ‘rububu no bobobó’,
enfeitiçavam o público pelo bom astral, pela sedução, pela magia e, pela
alegria fashion, claro. Garotas
saradas! Muito bonitas, ou muito engraçadas, todas com admirável veia
artística.
- Sei.
- Não
podemos esquecer nunca que a fase das vedetes no palco foi um grande indicador
de mudanças na sociedade em todos os sentidos. Com elas o erotismo feminino
começou ser vivido de modo mais natural no Brasil, tanto que a estrela do
teatro revista Virgínia Laine recebeu das mãos do presidente Getúlio Vargas a
faixa de Vedete do Brasil.
- Talvez.
Mathieu,
depois de tomar um pouco de cerveja, acende um cigarro dizendo:
- Não
perco os filmes de Jean-Luc Godard.
-
Formidáveis.
- Podemos
dizer que, de um modo geral, o componente poético no cinema decolou com os
filmes Godard. Entre eles O Acossado, Pierrot Le Fou e Duas Ou Três Coisas Que
Sei Dela, de 1967, apesar de ser um documentário.
- Gênio!
– expressa a mulher.
- Criador
que jamais devemos perder de vista, vai ficar para a posteridade.
- Sem
dúvida.
Pausa.
Mathieu:
-
Anteontem, assisti 2001- Uma Odisseia no Espaço, o novo longa de Stanley
Kubrick.
- O que
achou?
-
Magnífico. Kubrick, ao lado do roteirista Arthur C. Clarke, adiantou-se no
tempo ao realizar o primeiro filme que levanta a hipótese da inteligência
artificial. Na verdade, ele reinventa a ficção científica. Até então, os filmes
desse gênero eram aqueles conglomerados de monstros com a missão de destruir
cidades, principalmente.
- Isso
mesmo.
- E, para
oferecer um clima especial ao filme, Kubrick contou com uma trilha musical que
remete à evolução da espécie humana. Por exemplo, a composição Tlzits Spake
Zarathirstra, de Richard Strauss, foi inspirada numa obra de Nietzsche. É o
mito iiietzchearzo do super-homem.
- Deve
ser mesmo um filme muito interessante.
- Bem...
Bem... Suzana, que outro filme em cartaz gostaria de ver?
- Deixa-me ver? Ah, Belle de Jour,
com Catherine Deneuve!
Mathieu
balança cabeça em sinal de aprovação.
-
Buñuel! Boa escolha. Espetacular do primeiro ao último minuto, tanto que lidera
a bilheteria mundial. Não é um longa que namora com a literatura clássica, mas
é fantástico. Coisa de gente grande.
-
Pretendo ver.
- Vai
gostar. Com ares de filme noir dos
anos 1950 e um ‘quê’ de Hitchcock, exibe um olhar cru sobre a sexualidade. Obra-prima.
- Tudo
com intensidade rara de se ver no cinema. Tão rara que sua repercussão fora da
tela teve críticas das feministas, acerca das longas sequências de uma mulher nua
na cama, numa insinuante exposição do seu corpo. Cenas bem fortes, viu?
- Sério?
- Além de
tudo, a fita está aí para mostrar que a cinematografia não é só Hollywood,
considerada a Capital Mundial do Cinema. Deu certo na França. Trabalha
elementos característicos de um cineasta famoso pelo teor inflamável de filmes,
que exploram os conflitos do universo feminino. Versão sem truques, pode
conferir.
- Sim.
- Em
cartaz na cidade, desde terça passada. É um filme ousado e conservador. O
tempo todo, Buñuel conduz os personagens em rota silenciosa de sexo compulsivo,
exibindo a insaciabilidade da personagem, louca por jogos eróticos. Sobra
vitalidade.
- Uau!
-
Conservador, porque essa procura, necessariamente, é uma compulsão doentia. De
cena em cena, Luís Buñuel Portolés nos remete a outras reflexões através de um
roteiro envolvente, da maior relevância – enaltece Mathieu.
-
Maravilha!
-
História construída dentro de um motel, que serve como canal para revelar
angústias e desejos de quem vive seu momento de amor em pedaços. A atriz
interpreta Severine, uma mulher que resolve se prostituir, a fim de explorar
seu próprio corpo numa tentativa de entender melhor os fetiches dos homens, e
como suas mulheres reagem à traição.
-
Caramba!
- Por
outro lado, a oportunidade de observar Catherine Deneuve no auge da forma,
contracenando em cenas picantes com vários homens numa película colorida e, em
cinemascope, faz do longa um grande acontecimento. A superstar vive um furacão
sexual na tela, seu desempenho é fantástico. Imprime a imagem da mulher ideal,
da feminilidade absoluta, da atriz por excelência. Isso só justificaria seu
valor.
- Claro.
- Poucas
estrelas teriam a coragem de encarar um filme sobre uma jovem esposa de um
médico, que transita entre a depressão e a voracidade sexual em questão de
horas. Além do mais é marcado por uma fotografia requintada, de encher os
olhos.
- Legal.
Mathieu,
sorrindo:
- E ai,
ficou curiosa? Quer saber um pouco mais do enredo?
- Fala.
- Muito
bem. Buñuel explora a transexualidade de uma senhora bem casada, que aceitou a
própria destruição. Lembra Ema Bovary, personagem de Gustave Flaubert, no livro
Madame Bovary. Ambas viram na prostituição algo que nada mais poderia dar.
- Ã-Hã!
- Tanto o
escritor francês como o cineasta mostraram o enfado de morte do casamento
pequeno-burguês, que fazia suas protagonistas buscar emoções diferentes e vivas
fora dele. No romance de e no filme, as duas mulheres provocam polêmicas ao mostrar
que a vida dupla é o retrato preto e branco do desconforto feminino, mesmo em
tempo de mudanças comportamentais.
- Virgem
Santa! Continua falando...
-
Severine, mulher casada com um cirurgião bem sucedido, mesmo vivendo uma união
de aparente tranquilidade, não se sente feliz. Então parte para uma vida
promíscua num bordel, onde expõe um abismo aberto a tudo e a todos. Enfim, o
filme aborda o cotidiano de uma mulher viciada em sexo que se relaciona com
sexólatras anônimos numa rotina, essencialmente, compulsiva.
-
Imagino.
- A
narrativa é um pouco fragmentada, coisa meio intelectualizada, sabe como é?
Mas, logo a gente percebe que as conversas com seu esposo se limitam a trechos
mínimos, enquanto os encontros amorosos são exibidos bem mais no ‘antes’ e no
‘depois’. O ‘durante’ é breve. Mas, recheado com cenas desagradáveis e
asquerosas.
-
Interessante.
- Em Bela
da Tarde, Buñuel afirma com todas as letras que o sexo move as pessoas como
nenhuma outra coisa conseguiria. Vai fundo. Leva o espectador pelas mãos em vez
de jogá-lo no escuro. Lições de um filósofo!
- Isso é
bom.
- A trama
é essa, amiga. Não o vejo como uma crítica social, mas como substância que cada
um deve avaliar depois de ver a fita. Um convite para fazer a gente refletir,
refletir e refletir.
- Sim.
- Pois
então assista ao filme para tirar suas próprias conclusões e ver que se trata
de um cineasta com fama de produzir cinema para falar das mulheres, e dos seus
dilemas, claro. Bela da Tarde seduz, instiga com força.
- Não
perco por nada.
- Ninguém
filma como Buñuel. Suas marcas autorais são inconfundíveis, os enquadramentos
simétricos, a frontalidade de muitas cenas, a câmera que pouco se move. Belle
resume a trajetória de um dos nomes mais completos do cinema mundial que, em
cada filme, em cada gênero, conseguiu criar uma tensão diferente. Vale a pena
conferir.
- Claro.
Pausa.
Mathieu:
- Outro
mérito do filme é que consegue a proeza de provocar risos na plateia, e, ainda
fazer com que as pessoas meditem sobre os problemas do dia a dia na vida
conjugal, tendo ou não traição envolvida.
- Vou
assistir, sim. Pode deixar.
- Vá e
curta o mais incendiário longa de Buñuel do momento. Seu estilista predileto
faz uma pontinha. O filme é um drama poderoso, que promete acompanhar o
espectador por um bom tempo. Está em cartaz na telona de 17 metros do Cine
Palladium. Manda ver. Ótima sessão para você.
- Muito
chique!
- Buñuel
é essência, Suzana. Como Bergman, o cineasta influenciou como nunca a nossa
cabeça, pontuou a formação e as angustias profissionais da nossa geração. Seu
olhar ajudou a mudar tudo.
-
Certamente.
O rapaz
tira um cigarro do maço, acende. Depois de uma tragada demorada, observa:
- O
Palladium é point. Bom lugar
para os rapazes levarem moças que querem conquistar à moda antiga, ou flertar
com outras que se encontram sozinhas na noite, abertas a uma paquera, a um
arrepio delicioso ou a uma aventura erótica. Ou seja, garotas que cobiçam
praticar o doce esporte da conquista à moda moderna.
Risos.
Suzana começa a fumar um mentolado. Cheia de si, revela:
- Sabe
que fui à festa de inauguração dessa ‘sala’. Lembro como se fosse hoje. Ocorreu
numa quarta-feira, no último dia de julho de 1963.
- Eu não.
Ainda não morava aqui. Mas, em setembro passado, vi todos os filmes do 1º
Festival do Cinema Brasileiro de Belo Horizonte, que consagrou o diretor Sérgio
Bernardes Filho, pelo filme Dezesperato – exalta Mathieu.
- Queria ter ido. Mas como?
Imaginava olhar bem de pertinho o galã Raul Cortez, seu interprete principal.
Tão bonito! Eu o vi em dois outros filmes e fiquei fã do ator.
Risos.
Mathieu:
- Há
alguns raros atores que têm a capacidade de servir de canal de verdade para o
brilho. Raul possui esse dom. Filmaço!
Suzana
apanha o copo e toma um pouco de cerveja. Em seguida, numa expressão curiosa,
pergunta:
- Como
cinéfilo de carteirinha, me diga qual é o melhor filme já produzido no mundo
até esse final da década de 1960?
Depois de
matutar por um instante, Mathieu:
- Ah, são
tantos. Mas, assim, assim de supetão, votaria no Citizen Kane, de Orson Welles,
rodado em 1941. É o melhor filme de todos os tempos. Até os dias de hoje,
claro.
- Por
quê?
-
Pela capacidade de seu diretor de arrancar emoções da plateia o tempo todo,
principalmente.
- Tão
especial assim?
- Orson
revolucionou, fincou raízes, fez florestas. Mudou o entendimento da sétima arte
para tornar seu longa a síntese do cinema moderno - o único sobre o real
significado da vida contemporânea. Não copiou ninguém enquanto muitos, de lá
para cá, tentaram imitá-lo, atrapalhadamente. Depois dele, o cinema só evoluiu
para não sair do lugar – sustenta Mathieu.
- Cidadão
Kane!?...
-
Construído em cima da palavra rosebud.
-
Rosebud?
- Botão
de rosa, para os ingleses. Simboliza um código para a felicidade, o desejo e o
sentido da vida - conclui o rapaz, sorrindo.
- Olha!
- A trama
gira em torno do jornalista Charles Foster Kane, interpretado pelo próprio
diretor, com 25 anos na época. Foi o primeiro longa-metragem dirigido por Orson
Welles.
- Não
sabia.
- Película
fascinante! Apresenta o poder da palavra de transformar ideias em fatos. É a
poesia em forma de cinema. Muito legal.
- Por que
rosebud?
- Wells
arquitetou uma referência poética ao clitóris como o que há de mais íntimo,
misterioso e encoberto no corpo de uma mulher. Nada muito preciso. Os atos
sexuais são filmados de forma superestilizada, poeticamente, descritivas.
- Legal.
- O filme
é malicioso, mas em nada difamador, muito criativo. Marcou sua época devido às inovações, sobretudo nas
técnicas narrativas e nos enquadramentos cinematográficos. O roteiro é brilhante, tanto que o longa foi considerado, por grande parte da
crítica especializada, como o maior filme da história até o momento, figurando
em primeiro lugar na lista do American Film Institute. Assista você também.
Suzana
balança a cabeça suavemente, concordando:
- Não dá
para perder. Vai entrar para a minha lista, pode deixar.
- Pois
então fique atenta na programação das seções de arte dos jornais. Há muito
tempo Cidadão Kane está fora do circuito comercial, apesar de ser um dos filmes
mais trabalhados da cinematografia estadunidense.
- Estou
ligada. Cite mais duas fitas.
- Também
gosto de filmes de Fellini. Doce Vida é genial. Mas, filme que gostaria de ter
uma cópia comigo para sempre é Luzes da Ribalta, de Charlie Chaplin.
- Pelo
jeito admira os mais antigos!
- Certa
vez, o filósofo Henri Bérgson, ao ver as películas de Lumière, entusiasmado com
o milagre do cinema de ressuscitar as pessoas na tela, declarou que o cinema é
importante para vermos como se moviam os antigos. É isso, nada mais acertado.
Pausa.
Suzana:
- A
produção cinematográfica brasileira, fora as chanchadas, como anda?
- Vai
bem.
- E o
Cinema Novo?
- O movimento,
que tem Glauber Rocha como líder, abre um canal para fazer história na história
da cinematografia de vários brasis. Está aí para provar que nosso cinema ainda
possui o que dizer e capacidade para conquistar um bom público, mesmo não sendo
orientado pelo mercado.
- Não me
atrai, muito menos desperta interesse. Penso que é cinema feito para um grupo
restrito de interessados.
- Você
pode até não ser ligada em cinema de protesto. Ainda assim é, praticamente,
impossível que não conheça a irreverência dessa figura chamada Glauber Rocha.
Assistiu Deus e o Diabo na Terra do Sol?
- Uma das
piores fitas que já vi na minha vida. Divaguei o tempo todo.
-
Caramba!
-
Aborrecido demais, uma chatura! Longas sequências em silêncio deixam o filme
tedioso. Intolerável, pedante.
- Sério?
Algumas
cenas tomadas de maneira muito realista, especialmente, a que representa o
fuzilamento do Corisco por Antônio das Mortes, causa um stress físico e
psicológico tão grande que nem sei como aguentei chegar ao segundo rolo.
- E Terra
em Transe?
Suzana dá
de ombros.
- Não me
aventuro.
- Longa
para reflexão, querida. O enfoque, abarrotado de conotações maquiavélicas,
faturou o Festival de Cannes em maio do ano passado. Na solenidade de entrega
do prêmio, Glauber aproveitou o evento e quebrou o protocolo para ler um
manifesto contra a Ditadura no Brasil. Achei bacana.
- Folgo
em saber.
- Soltou
o verbo, sem temer o peso da censura brasileira.
-
Parabéns.
- O cara
tem lá seu mérito, sim.
- Pode
até ser, mas não é o suficiente para me converter em fã do Cinema Novo, porque
nunca gostei.
-
Querida, com o endurecimento do regime, a saída que restou aos cineastas mais
contestadores foi investir em uma cinematografia que documenta o real como
forma de resistência. Isso é o Cinema Novo no Brasil.
- Não me
seduz. Eu..., eu prefiro, de longe, a atuação de um Jerry Lewis, fazendo caras
e bocas, com seu estilo de comédia supersimples. Divirto-me à beça com suas
confusões.
- A mim
também.
- Ou de
um Mazzaropi com suas comédias românticas.
-
Amacio Mazzaropi?
- Seus
filmes, com característica própria de determinadas regiões do país, estão o
tempo todo a serviço da emoção. Permitem-me rir ao mesmo tempo em que me
comovem.
–
Mazzaropi mudou os parâmetros econômicos da arte cinematográfica no Brasil.
Tornou-se mito do cinema rural brasileiro. Também gosto.
- Nunca
ri tanto ao assistir As aventuras de Pedro Malasarte. O maior ‘barato’!
- Se ama
filme que faz rir, entrou em cartaz O Homem Nu. Apresenta Leila Diniz numa
atuação delirante ao lado do ator Paulo José.
- Tem a
ver com a obra do Fernando Sabino?
- Do
livro à tela. Adaptação, sim. Porém, mais perto da realidade do que da ficção.
Mostra um diretor habilidoso na condução de seus personagens, juntando comédia
e ação.
- Legal.
-
Romances em geral, quase sempre dão filmes fracos, porque não têm a linguagem
original do cinema. Só um bom diretor consegue vencer o grande desafio de
transformar linguagem literária em linguagem cinematográfica. É o caso. Nessa
fita, Roberto Santos perpetrou uma montagem bem próxima ao texto de Sabino,
contrariando aquela velha tradição de ruptura. Conservou os elementos da
narrativa, personagens e situações essenciais, mostrando uma realidade crua e
bem nua, hiper-realista. Já leu o livro?
- Ainda
não.
- Bom ler
antes. Observar a transposição das palavras para a tela e perceber como Sabino
é dono de uma carga dramática incrível. Dono de uma pegada firme esbanja
inclinação para a sétima arte, narrando o mundo de forma acessível e detalhada.
No texto dele nada de errado, nada se choca.
-
Maravilha!
- Mestre
em materializar corpos e rostos caricatos, com humor peculiar, e a preocupação
com o texto, Sabino tira risadas da plateia, principalmente, nos trechos em que
as trapalhadas da nudez são pontuadas. É muito engraçado o esforço do
personagem para fugir da polícia e dos curiosos. Diverti-me muito.
- Me fala
um pouco mais do filme.
- Agora,
não. Leia o livro.
- Ô,
Math!
- Não
posso contar, senão perde a graça.
- Só um
tiquinho mais.
- Tudo
bem. Tudo bem. Narra as confusões causadas por um professor de música que fica,
acidentalmente, nu do lado de fora do seu apartamento. Pelado mesmo! Sem nada
para cobrir as suas vergonhas.
A mulher
não contém o riso.
- Nossa!
E aí?
-
Recomendo ler o livro, é fabuloso.
-
Pleeeease!!! Só mais uma palinha, vai.
- Bem, a
partir daí, do jeito como veio ao mundo, o cara passa por uma série de
situações inusitadas, fugindo de um lado para o outro pela cidade. Move-se como
fera acuada que precisa se proteger de uma população escandalizada. Longa que
nos faz dobrar de tanto rir. Sorrir da vida, do mundo e de nós mesmos. É ótimo,
precisa ver.
- Nota?
Pausa.
Mathieu:
- Não sou
crítico, apenas gosto de cinema.
- Nota?
- Fita
produzida com orçamento limitado e trama enlouquecida, garante diversão através
de intérpretes do primeiro escalão do cinema nacional. Granjeia elogios por
onde passa, mas...
- Mas?
- Bem, de
zero a dez dou oito.
- Oito?
- Não é
um mau filme de jeito nenhum. A história é boa, mas exagera um pouco nos
clichês. Não chega a abonar o talento do diretor Roberto Santos, entretanto
atrai com os quiproquós da trama. Faz o espectador pensar e rir ao mesmo tempo.
- É.
- Não
podemos esquecer que tem Leila Diniz, levando cores para a tela preta e branca.
Por sinal, está ótima na fita.
- Legal.
- A
trilha sonora, produzida para criar atmosfera divertida durante quase todo tempo,
cumpre o seu papel de animar uma ficção leve, divertida e bem-comportada. Vale
conferir. Veja o filme, mas leia o livro também.
- Vou
fazer isso, prometo.
Mathieu
suspira. Toma um pouco de cerveja e volta a falar do longa:
- Me
impressiona a inteligência corporal de Leila. Explora uma liberdade cênica,
indiscutivelmente, maravilhosa. Essa coisa que inova, mexe. É a nossa Bardot.
Tão fatal quanto a voluptuosa figura de Brigitte em seus dias de glória, que
esbanjava talento e muita energia para qualquer papel.
- Babou,
hein?
- É mesmo
uma atriz empolgante, de virar a cabeça de qualquer cristão. Nua, loira e linda
também esbanja sedução no filme Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos de
Oliveira que, apesar da fita ter muitas cenas cortadas por serem pesadas demais
para os censores - eles ainda defendem uma ninfa em versão bem comportada –
sobrou muita coisa para ver. De qualquer forma, é muito gostoso assistir um filme
com uma atriz tão disponível como a Leila, não é mesmo?
Suzana
surpresa:
-
Nuazinha?
- Ã-Hã!
Nuazinha em pelo.
- Ah,
mentira!
Mathieu
suspira:
- Meu
Deus, aquela coisinha escultural, toda nua! Um pedaço de mulher, que coisa
linda! De arrepiar, perder o fôlego – brinca Mathieu com um risinho carnal.
- Ficou
bobo?
-
Frutinha assim, acelera os batimentos cardíacos de qualquer cristão. Que boca!
Que olhos! Que corpo! Que cabelos!
Suzana
pergunta inquieta:
- Numa
época em que censuram até tragédia grega e fantasias de escolas de samba, como
esse filme foi liberado?
- Por
certo, os censores cortaram cenas carregadas demais e negativas à sociedade
brasileira, mas entenderam que o veto à triunfante nudez de Leila Diniz, em
nome da dignidade das mulheres, seria um insulto às próprias mulheres.
- Talvez.
-
Protagonista nata, fora de série. A atriz possui o dom no rosto de quem pode
estampar tudo o que sente, inclusive. Tanto é que, desempenhou bem o papel de
uma professora misteriosa, mostrando a alma safada inquieta de uma espécie de
carochinha inquieta.
- Não vi.
- Passa
da hora dela fazer um ensaio fotográfico nos moldes da norte-americana Bette
Page, que posou para a revista Playboy usando apenas um gorro de papai Noel na
cabeça. Leila é a nossa sex symbol.
- Aí, seu tolo, que a censura veta
mesmo!
- Quem é
que sabe?
-
Despojada demais para o meu gosto, fogo na roupa – observa Suzana.
E, após
um gole de cerveja, admite:
- Ela
possui seus méritos, seus encantos sim. Tanto que já é o espelho feminino de
muitas jovens brasileiras. Reconheço.
- De fato. Ainda garotona nas
praias do Rio, com a cara e o cabelo do verão, já revelava nas curvas de seu
corpo o poder de sedução. Em pose de top, desde então Leila mergulhava de biquíni
na imaginação masculina.
- Poxa!
- Gosto
do jeito como Leila se mexe, de seu sorriso ruidoso, de seus cabelos nem tão
longos e, principalmente, de seu estilo despojado de se vestir com aquela
pitadinha de receita boa.
-
Hummmmm!
- Como
ninguém, cada vez mais turbinada pela sexualidade, continua aí se impondo como
musa da barriga negativa e músculos saudáveis, que veste roupas extravagantes
para mostrar diferentes maneiras de exposição de sua irreverência. É uma diva
bem humorada que faz furor por onde passa, que faz minha cabeça.
- Ela é
doidinha, improvisa o que lhe dá na telha – expõe Suzana com muxoxo.
- Sempre
na mira de uma máquina fotográfica, a atriz se tornou poderosa formadora de
opinião que está aí para irritar e provocar os tradicionalistas. É a cara da nova
mulher do Brasil: imponente, viva, em movimento. Por isso mesmo é uma espécie
de porta-voz das que encaram a sexualidade sem medo e culpa.
- Eita!
- Admiro
sua ousadia. Em nosso país, é preciso reunir muita coragem para defender, em
público, que qualquer um pode muito bem
amar uma pessoa e ir para cama com outra.
- Dessa
vez, ela pisou feio na bola.
- Ora,
Suzana, disse isso como crítica ao moralismo e à ortodoxia que guiam a Igreja e
o Regime Militar brasileiro.
- Talvez.
Mas é bom pegar mais leve.
Risos. Mathieu:
- Na
voluptuosidade dos seus 23 anos, com um rostinho que consegue exprimir inocência
e malícia ao mesmo tempo. Tão feminina e bela..., tão sapeca..., tão provocante
e feliz com suas tiradas divertidas e sua gargalhada famosa que, se Freud
tivesse conhecido Leila, teria nos poupado o divã, ‘né?
- Ã-Hã!
- Anjo
rebelde como a escritora Pagu que, na década de 30, escandalizou a sociedade
com namoros breves, Leila Diniz mostra que, de peito aberto, pode usar a beleza
para defender seus ideais e provar que tem o mais precioso tipo de coragem, o
de lutar pela liberdade ampla e irrestrita das mulheres.
- Ã-Hã!
- Atriz
se revela incansável combatente. Tanto que já virou ícone do movimento
feminista no Brasil.
Suzana,
depois de pensar um pouco.
- Pagu
foi militante comunista, não foi?
-
Pertencia ao PCB. Tão entusiasmada com a causa comunista que, obedecendo a
ordens do próprio partido, aceitava trocar sexo por informações sigilosas.
- Sério?
- Não é
segredo. Outra que admiro é Norma Bengel.
- Boa
atriz. Para frente como Leila.
- É dela
o mérito de filmar a primeira cena de nu frontal do cinema nacional na fita Os
Cafajestes, de Ruy Guerra.
- Uai, Math,
você conseguiu assistir esse filme?
- Numa
sessão improvisada, escondida, mas vi. Erótico ao extremo.
- Então
mereceu a censura?
- Não.
Tudo não passou de um falso moralismo da Igreja que não gostou das cenas de
nudez. E muito menos da história transgressora de dois playboys que se
aproveitavam, sexualmente, das mulheres.
- De
mais, não é?
- Um
atraso. Jango, ou melhor, o presidente João Goulart acabou concordando com o
pedido da Igreja e, menos de duas semanas da estreia nos cinemas, dia 23 de
março de 1962, a película encerrou sua trajetória de sucesso com todas as
cópias retiradas do circuito pela censura da época.
- É.
-
Enquanto esteve em cartaz, Os Cafajeste lotou salas registrando mais de dois
milhões de bilhetes vendidos. Portanto o título de pioneira é dela e com um
‘que’ a mais: gotosíssima. Sexy sem economia, arrasou.
Houve um
silêncio prolongado. Em seguida, Suzana toma a mão do amigo, curva-se e a
acaricia.
- Math,
já escreveu seu roteiro para cinema?
- Sim,
senhora.
- Com vedetes?
O rapaz
com uma risadinha divertida:
- Mais
belas, sensuais e atraentes do que nunca, posso garantir. Mulheres
concupiscentes da cabeça aos pés, envoltas em echarpes de plumas rosa, hena à
vontade nas sobrancelhas e em torno dos olhos. E, sempre aparecendo com picolé
vermelho na boca para incendiar a imaginação dos espectadores das salas de cinema.
- Nada
mau como fantasia, gostei da ideia.
- Só
porque aquele momento do teatro rebolado passou, não quer dizer que foi só uma
fase. Sexo, em qualquer época, vai condimentar o conteúdo de qualquer filme. Chama
público.
-
Bem-dito seja!
Risos. Mathieu:
- Ora, Suzana, eu não posso fazer um filme careta, moralista,
fato que não sou. Quero uma produção moderna, cheia de juventude. Sensualidade
absoluta.
- Onde imagina
rodar?
- Búzios.
- Caramba!
-
Estrelado por uma atriz de voz envolvente, sobrancelha perfeita, pele de
pêssego e olhos esfumados com make à
prova de emoções. Enfim, que seja objeto de desejo de todos os homens, claro.
- Quem?
- Alguém
que reflita o brilho e a perfeição absoluta de Sandra Breia. Ela possui essa
luz, um talento notável! A sensualidade continua sendo sua marca registrada.
-
Pensando alto, rapaz.
- Desde
que, no verão de 1964, uma das mulheres mais bonitas do universo, Brigitte
Bardot, deslizou seus pesinhos pelas areias silenciosas do balneário, o local
passou a encantar, especialmente, cineastas de vários lugares, tornando-se uma
esquina do planeta. Em Búzios as coisas acontecem.
Pausa.
Mathieu gesticulando:
- Set à
beira-mar. Meu plano é fazer tomadas com muita luz natural na praia de Jeribá,
na orla Bardot, na Rua das Pedras, na Manoel Turíbio de Farias..., por ali.
Búzios tem na cidade, nas águas tranquilas e na história seus principais
atrativos. Portanto, imagino que é uma escolha perfeita para meu longa.
- Chique!
- Filmado
no verão, claro. A luz do sol dá mais vida aos rostos, corpos, árvores, praia,
cidade... Luxo à Bardot, tudo em high
key.
- Chave
de alta? Como assim?
-
Expressão do glossário fotográfico que sinaliza imagem formada, basicamente, em
tons claros. É absolutamente fantástico.
- Torço
por você.
-
Obrigado.
- Vou
assistir como sua megafã.
Mathieu
suspira tranquilo. Recostado na poltrona olha com curiosidade os globinhos de
ar que subiam, sem cessar, no copo de cerveja, enquanto apertava com mais força
a mão de Suzana.
- De
fato, querida, sonho alto.
- Três,
dois, um..., gravando! – parodia Suzana, rindo.
- Luz,
câmara, claquetes... E muita ação e emoção em cena – brinca Mathieu, permitindo
que todas as emoções viessem à tona naquele momento.
* FBN© - 2012 – Luzes da Ribalta..., NUMA NOITE EM 68 - Categoria: Romance de Geração - Autor: Welington Almeida Pinto. Iustr.: Catherine Deneuve fotografada com Ives Saint-Laurent no lançamento do filme Belle de Jour, Paris. Link: http://numanoiteem68.blogspot.com.br/2011/01/28xxviii-cinemascope-color-by-deluxe.html?zx=f6b046458f7543a1
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